#PETRUS – CAPÍTULO 56

19/07/2018

Entro no escritório do pai de Ane e bato a porta atrás de mim. Afrouxo o nó da gravata com a intenção de respirar melhor e tiro o meu terno. Olho para seu rosto e aquela expressão nojenta continua lá. Sinto como se apenas vendo ela, eu fosse capaz de vomitar.
Três anos.
Três anos depois do nosso último encontro, e olha eu aqui de novo.
Encarando a maldade mais uma vez. Recitando mil motivos para não acabar com aquele aqui e agora. Tentando convencer meu coração, de que por mais que eu o odiasse, pagar ódio com ódio não leva ninguém a lugar algum.
Tentando convencer a minha mente, que minha mãe onde quer que esteja, está melhor do que ao lado desse monstro.
Ele fez um favor á ela tirando-a desse inferno. O inferno de viver o resto da vida ao seu lado.
- Ok Hector, vamos lá - eu começo passando as duas mãos sobre o rosto, no intuito de pensar de forma mais clara, como se aquilo fosse limpar o véu de insanidade que me inundava - O que porra você está fazendo aqui?
- Isso são modos de falar com seu pai? Eu vim para o noivado do meu filho mais novo, ué.
Você pode até pensar que ele é louco, mas não. Ironia sempre foi o forte dele.
- Não seja ridículo, Hector - eu bufo e me aproximo - Oque você está pretendendo com isso? Eles não merecem que você faça nenhum mal á eles.
O seu problema é comigo; você não pode aparecer aqui assim e envolve-los em algo que eles não tem culpa. - meu tom se torna cada vez mais ameaçador, conforme as palavras saem praticamente cuspidas da minha boca.
- E quem te disse que eu pretendo fazer mal á eles, filhão? - seu sorriso sarcástico se torna frio. Eu já vi esse sorriso antes, e droga, ele nunca é bom - Não a menos que você colabore, claro.
Meu Deus, tudo de novo. Esse homem ainda era meu pior pesadelo.
- O que você quer de mim, fala logo.
- Eu ainda não sei, para te falar a verdade. São tantas vantagens que eu posso tirar disso que eu nem sei bem por onde começar... -ele ri, tirando sarro do meu medo. Puxa a cadeira e se senta, sentindo-se dono do ambiente. -Pela primeira vez na vida você fez algo bom.
O quê? Por mais que eu tente, acompanhar os devaneios desse lunático tornava-se cada dia mais difícil.
-Você vai se casar com uma das maiores herdeiras do país! Demorou, mas você enfim vai valer pelo menos a comida que eu gastei te alimentando.
- Você é nojento - de repente minha náusea se tornou real e eu tive que fazer um esforço quase sobre humano para não vomitar ali na sua frente, mas eu me esforcei, porque ele não valia nem isso vindo de mim.
Ele sorri, maldoso, mas não me responde nada.
- Eu sei que você me odeia - eu tento argumentar - Mas por favor, não faça nada contra eles. Eles não merecem.
- Eu não vou, já te disse. - ele olha dentro dos meus olhos - Pelo menos não por enquanto. Quero primeiro ter certeza se eles me terão serventia. Talvez seu sogro rico e influente me faça lucrar alguns milhões. Por enquanto, eu
vou me manter nos bastidores filhinho.
Eu não sabia o que era pior: ele atacar de uma vez ou se esgueirar como um animal, só preparando o bote. Aquilo não fazia muito sentido para mim.
A única coisa que fazia sentido era o pensamento em repetição dentro da minha cabeça: mate ele, mate ele, mate ele.
Sua sorte é que eu não podia. Infelizmente nesse caso, eu era melhor do que ele.
-Você sabe que está estragando o melhor dia da minha vida, não sabe? - eu lhe pergunto com o ódio chispando em meus olhos.
- Estou? Ótimo. Foi para isso que eu vim - seu rosto se abre em um grande sorriso gélido - Objetivo cumprido. - Ele estala o whisky na língua, me fitando sombriamente.
- Eu te odeio com todas as minhas forças.
- É como dizem filhão: não dá pra obrigar as pessoas a te amarem, é a vida...
- ele faz uma pausa olhando pro nada - Mas com certeza dá pra fazer elas te temerem, isso dá.
- Você não é só ruim Hector. Você é doente também. É a única explicação que eu encontro.
- Você cresceu e ficou espertinho né? Se fossem outros tempos, você sabe como eu te faria engolir essas palavras.
Meu sangue gela e eu decido revidar.
- Outros tempos? Você diz antes ou depois de eu comer todas as vagabundas que você levava pra casa e chamava de mulher? Você sempre foi um corno de marca maior, seu escroto.
- Seu moleque! - ele levanta e bate as mãos na mesa - Eu ainda sou seu pai, seu merdinha!
- Meu pai? - eu explodo em uma risada. Aquela conversa estava beirando o ridículo. - Você não é meu pai! - eu grito, mas logo em seguida lembro da onde estou e abaixo o tom de voz - VOCÊ. NÃO.É.MEU.PAI. Eu agradeço todos os dias por não ter seu sangue sujo.
-Mas tem meu sobrenome! E se você carrega meu sobrenome, você tem que me respeitar. Por mais que eu te deteste, e eu realmente te detesto, seu moleque insolente, você ainda é um Domminic.
De repente me deu conta do horror da situação e me sento, cansado de lutar.
Depois de anos, eu ainda estava no mesmo lugar. Lutando com a mesma pessoa. Eu não aguentava mais.
- Por favor Hector - eu demonstro minha fraqueza, mesmo tentando com todas as forças não fazer isso - Por favor, fala o que você quer de mim, mas
deixa eles fora disso. Eu preciso de paz e eles não merecem entrar nessa guerra.
- Moleque... - ele me olha e ri, como um gato brincando com o ratinho cansado - Você gosta mesmo dela não é? Por um momento, também achei que fosse interesse da sua parte,eu estava até te achando esperto, mas não...
você ama ela.
Eu não respondo nada.
- Você ama ela sim! Você é tão idiota. Acabou de me entregar a informação mais importante. Você é como a sua mãe, Petrus. Quando ama, se perde, se anula, se prejudica. Obrigado por me deixar saber isso.
- Você não tem pena de ninguém, não é? - por um segundo, eu perco a sanidade e pergunto o que já tinha resposta.
- Não. Não tenho pena de ninguém. Pessoas tem o que merecem ter. - ele pega seu copo de whisky e vai em direção á porta - Jantar semana que vem em casa. Até lá eu decido o que eu quero. Agora vamos voltar para a sua
deliciosa festa e sua deliciosa noiva. Tadinha, ela deve estar aflita. E eu sei que o que você menos quer é deixa-la aflita.
- Hector...
- Petrus, eu posso destruir a vida dessa menina com meia dúzia de palavras.
Você quer mesmo bater de frente comigo? Sabe, sua mãe fazia isso sempre...
pena ela não estar mais aqui para contar para você.
Eu me levantei derrotado.
Ele estava no controle da minha vida novamente.

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