#PETRUS – CAPÍTULO 20

04/07/2018

Sabe aquela pessoa que você conhece e se identifica? Tipo quando você está no primeiro dia de aula na faculdade e senta ao lado de alguém e depois do primeiro oi, você pensa: esse ai vai ser meu amigo pro resto da vida? Então, foi mais ou menos assim com o irmão da Ane. Conhecê-lo me fez ter vontade de ter um irmão de verdade, não o Dimitri. Nós descobrimos gostos em comum e ele me chamou para jogar tênis, na quarta -feira. Anelise se surpreendeu por eu jogar tênis e ela não saber. Era mais um detalhe que eu esqueci de falar com ela, mas a danada foi rápida o suficiente para fingir que sabia que eu era o melhor jogador de tênis da época do colegial e que até tinha ganho um torneio regional.
O almoço foi agradável; Rúbia me apresentou seu marido, Ricardo, um cara que pensava na bolsa de valores o tempo todo e não desligava nenhum de seus três aparelhos celulares nem para comer. No mais, parecia ser gente boa.
Pena que eu só troquei três ou quatro palavras com ele. O pai de Ane dessa vez não cometeu nenhuma gafe e até que foi bem agradável comigo durante o almoço, falando sobre pratos da região (ele acha que eu sou um chef,
Senhor). Acho que era a primeira vez desde que minha mãe morreu que eu participava de uma reunião em família. Uma verdadeira família.
No fim do almoço, Marcello me chamou até a área de convivência nos fundos da mansão.
-Quer beber alguma coisa, Petrus? - ele mexe no mini bar encostado á grande porta de vidro do salão.
-Não, valeu. Não costumo beber durante o dia - eu limpo a garganta - Na verdade, quase não costumo beber.
- Isso é bom. Eu queria ter hábitos mais saudáveis ás vezes - ele ri e se senta.
Na impossibilidade de dizer a ele como eu acho patético quem se esconde atrás de uma garrafa de álcool, eu só concordei. Era isso que ele fazia, sempre. Entornava uma garrafa de Jhonnie Walker Black com aquela vadia que ele colocou dentro da minha casa e depois descontava todo o ódio de algo que eu nem sabia o que era em mim, o filho mais novo, o motivo da desonra dele, como ele insistia em repetir a cada tapa, chute, soco ou humilhação que eu passava. Eu não gosto de bebidas porque eu não quero ser igual á ele.
A última coisa no mundo que eu quero ser, é igual á ele.
-Petrus? - ouço a voz de Marcello chamando minha atenção de volta e me viro.
-Desculpa, J.W me faz lembrar meu pai. - digo constrangido enquanto ele leva o copo á boca.
-Boas lembranças, então. - Marcello diz e sorri.
Eu nunca vou saber o que são boas lembranças.
-Claro - sorrio de volta - Ótimas lembranças.
-Sabe - ele se vira para mim e começa a dizer - Eu resolvi vir hoje te conhecer porque eu sempre cuidei bem da minha irmã, Petrus. Ela não tem meu sangue, mas ela é a menina dos meus olhos. Nós temos só 4 anos de diferença...mas ela sempre vai ser meu bebê, você entende isso?
Como explicar á ele que eu não entendia? Que eu não sei como é o relacionamento de irmãos?
-Claro que entendo, Marcello. Eu também tenho um irmão - jogo os braços sobre as pernas e fico olhando para ele, enquanto ele continua seu discurso.
-Então, eu vim hoje porque eu queria conhecer o cara que fez minha irmã se apaixonar assim tão rápido - ele se inclina na cadeira e solta uma risada alta - Cara, você vai rir, mas por um segundo eu achei que era mentira dela. A Ane é meio viajante, então eu quis vir ver com que tipo de gente ela estava se metendo. Por favor, não me entenda mal... mas eu me preocupo com ela.
Puta Merda, não acredito, será que ele sabe?
-Mas sabe - ele prossegue - Quando eu vi vocês dois juntos, eu entendi. Foi amor á primeira vista, não é? O modo como ela olha para você Petrus... eu nunca vi ela olhar para ninguém, nem para o Guilherme, o ex noivo dela.
Aliás, eu já vi esse olhar nela sim. - ele balança o dedo como que puxando algo da memória - Ela olhava assim para a nossa mãe. Era um olhar tão apaixonado, tão carregado... ela venerava nossa mãe, Petrus. Dona Gisele era todo o mundo dela e por alguns anos achei que nunca mais veria a Ane carregada de sentimentos assim, mas hoje eu descobri que não. Ela te ama de verdade cara. Minha irmã voltou a brilhar e você é a razão disso.
Ela me ama? De onde ele tirou isso? Sinto meu coração bater tão forte que parece que ele vai saltar para fora do meu peito.
-E vendo como você olha para ela Petrus, eu posso dizer que estou tranqüilo.
Eu achei que ia chegar aqui e ter que bater em algum mané que estava se aproveitando da carência da minha irmã, mas só pelo modo que você também a olha, o modo como fala com ela, como você a faz rir; é difícil fazer a Ane rir, normalmente ela é tão mal humorada... você sabe que ela é -ele gargalha nessa hora, o que faz meu coração apertar. Eu estava enganando um cara tão bacana... tive vontade de me socar - Petrus, eu quero de verdade um dia ter a benção de sentir isso por alguém também. - ele me dá um tapa no joelho e se levanta.
-Agora eu preciso ir para casa, mas nos vemos na quarta, não é?
Ainda sinto que meu peito vai explodir, mas consigo me virar e sorrir.
-Claro Marcello. Obrigado pela conversa, é bom saber que você me aprova.
-Claro que te aprovo, brother! Bem vindo á família.
Família. Quem dera essa fosse realmente minha.

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