#BRUTO - CAPÍTULO 1

05/03/2018

Carolina❤

Algumas semanas antes - São Paulo
Eu saboreava um sundae de chocolate com 
morango, salpicado com M&Ms e tudo o mais que eu 
tinha direito, era sábado, após uma semana extremamente estressante no escritório, eu precisava de um doce como aquele, delicioso e inegávelmente calórico, a dieta que eu havia escolhido para aquele mês estava me matando. Esse negócio de dieta líquida era uma verdadeira tortura.
Infelizmente, meu metabolismo já tinha se dado 
conta de que eu não era mais o tipo de garota que pode comer de tudo sem engordar. Não... eu não era mais como essas... Meu reflexo refletido na boutique dizia aquilo.
Quadril largo, manequim quarenta e dois, beirando o 
quarenta e quatro, seios fartos e pesados, eu não me 
importaria em diminuir uns bons números de manequim, mas o que mais me incomodava era a barriga, a gordurinha que se acumulava em um pneuzinho insistente que parecia ter chegado para ficar.
Na adolescência, eu era um palito, quando 
encorpei, lá pela casa dos vinte, foi tranquilo, mas agora que eu completaria trinta e um, parecia que minha bunda aumentava só de passar perto do Mc Donalds.
- E aí, bunduda? - A voz de Matt foi seguida 
pelo estalo da palmada que ele dera em meu traseiro.
Ele era o único que tinha coragem para fazer aquilo. E para me irritar ainda mais, ele adorava fazer isso em público, o que, lógico, eu detestava.
Luís era meu colega de faculdade, e meu amigo 
de longa data. Nós havíamos cursado direito juntos. Eu tive uma queda por ele no início. Eu e todas as garotas da minha turma, era difícil não prestar atenção em um homem como ele, olhos azuis extremamente claros, as sobrancelhas escuras, o brilho do cabelo negro bem cuidado, a pele branca impecável, e o corpo de um verdadeiro Deus. Isso sem falar em seu senso de moda, ostentava belos ternos sob medida. O cara não errava uma. Fazia eu e todas as outras salivarem por uma provinha daquilo tudo.
Lógico que eu me aproximei dele, o queria para 
mim a qualquer custo.
Mas descobri que ele era gay foi um banho de 
águia fria no inverno.
Luís era bom demais para ser verdade. Seu único 
"defeito" era estar em um patamar inalcançável para nós, pobres mulheres mortais. Era divertido estar em sua companhia, eu o apelidei de Matt devido a semelhança entre ele o ator americano Matt Bommer.
- Já está nos doces. Assim essa sua bunda não 
vai parar de crescer - ele brinca e sorri, exibindo dentes brancos perfeitamente alinhados.
Reviro os olhos e lhe mostro o dedo do meio com a mão que não está segurando o sundae. Aquele era um ritual nosso, apesar de termos cursado Direito juntos, fui trabalhar no escritório de advocacia de meus pais, e Matt, apesar da oferta generosa feita pelo meu falecido pai, seguiu outro rumo, passou em primeiro lugar no concurso para Promotor de Justiça. Sim, o cara é sexy lindo e, ainda por cima, inteligente. Pô, Jesus, aquilo era uma puta sacanagem...
Nos sábados, nos encontrávamos no shopping 
para o dia de mulherzinha, muitas compras e cinema e, aos domingos, íamos ao SPA, tratar das unhas, pele e cabelos.
Nós fazíamos um belo par.
Ele se inclina em minha direção e me dá um 
selinho leve. Quando se afasta, vejo as vendedoras da loja com os olhares voltados para o Ken Malibu que me acompanhava.
- Vamos sair logo daqui ou a baba das vendedoras vai escorrer sobre aqueles sapatos lindos.
Ele ri e me puxa pela cintura, andamos abraçados, conversando sobre tudo. Quando finalmente paramos na praça de alimentação, ele opta por uma refeição mais leve, salada e filé de salmão grelhado, e como eu naquele dia já tinha mandado minha dieta para o inferno, comi dois Burger Kings com bacon extra.
- Cale a boca. Se abrir essa sua boca, eu jogo 
minha Coca-Cola no seu terno Armani.
Ele riu e fez sinal de que estava fechando um zíper invisível, prendendo seus comentários, guardando- 
os só para si.
- Falei de você para um colega meu - ele diz 
com certa empolgação, como uma criança que confessa uma arte para a outra.
- Caramba, Matt, já disse a você que eu não 
preciso que ninguém fique arranjando encontros para mim!
- Repreendo-o com rispidez, aquela não era a primeira vez que falava para ele que eu não estava aberta a relacionamentos.
Por que era tão difícil entender?
- Você andou falando com a minha mãe, não é?!
- Largo o hambúrguer e tomo um gole do refrigerante 
gelado.
A expressão de euforia de seu rosto desaparece e 
é substituída por um ar de preocupação.
- Você sabe que nós só queremos o seu bem.
- O cara é um gato, inteligente, polido. - Ele tira o celular do bolso do blazer, e o encaro, fuzilando-o com o olhar.
- Luís! - enfatizo que estou braba o chamando pelo nome, coisa que nunca faço. - Não me importa se 
ele é a encarnação do Adônis, eu não quero me envolver com ninguém, pelo menos, não por agora.
- Carol, você me diz a mesma coisa há anos.
Por que não deixa mais ninguém chegar perto de você? 
Esse tom preocupado me irrita, sua voz é tão parecida
com a de Carlos, e lembrar dele me causa uma pontada de dor.
- Eu não posso substituir seu irmão. Eu o amava 
e, pelo amor de Deus, Pare. De. Me. Atormentar 
Isso!
O casal da mesa ao lado nos olha quando meu 
tom de voz se  leva.
- Eu não quero e não vou. Foi doloroso demais.
Tenho malditos trinta anos, acho que posso decidir o que fazer   essa altura da minha vida.
Matt larga os talheres ao lado do prato e limpa os 
lábios com o guardanapo.
- Meu irmão morreu há cinco anos. Mas ele não 
tem o direito de levar minha melhor amiga para o túmulo com ele. Se afundar em trabalho e gastar o que não pode, dessa maneira que você vai viver?
Como ele ousa pedir para que eu siga em frente?
- Carol, você ganha cinco mil por mês e gasta 
dez. Essa conta não fecha. Meu anjo, você se consola 
fazendo compras e afastando todos de você. Eu sei que você pode amar de novo se deixar que alguém se 
aproxime.
- Obrigada pelos conselhos, doutor. Não sabia 
que, além de promotor, também era psicólogo e 
conselheiro financeiro. - Levanto abruptamente e a 
cadeira cai atrás de mim.
Não me importo em ergue-la, apenas pego minhas 
sacolas e bolsa e saio pisando duro sem olhar para trás.
Mesmo sem olhar para trás, sei que ele está vindo atrás de  mim.
- Espere, Carol.
Sinto as lágrimas pinicando meus olhos. Não 
quero chorar.
Eu não vou chorar!
Entro no banheiro feminino e passo na frente da 
fila de mulheres que esperam sua vez por uma cabine privada. Assim que a porta se abre, eu entro e me tranco lá! Ignoro os xingamentos das outras e largo as minhas compras no chão.
Meu celular vibra na bolsa.
"Carol, sai daí. Desculpe. Vamos conversar", diz 
a mensagem mais recente no WhatsApp.
Escondo minhas lágrimas, mesmo que ninguém 
possa vê-las aqui. Meu choro é contido. Sentada no vaso sanitário, debruço minha cabeça sobre minhas pernas e fico ali, perdida no tempo, esperando que as lembranças sejam abafadas mais uma vez, esperando que Matt pare de me mandar mensagens e vá embora, para que eu possa sair daqui sem que ele veja a minha cara de choro.
Fico na mesma posição durante um bom tempo.
Os soluços do choro já desapareceram. O celular também parou de vibrar. Respiro fundo, fico de pé e recolho minhas compras, destranco a porta do banheiro, vou até o balcão de granito e agradeço pelo banheiro estar vazio.
Lavo e seco o rosto. Retoco minha maquiagem, escondo as marcas do choro. Encaixo a bolsa no ombro e percebo uma pequena mancha no couro.Droga.
Eu nem havia terminado de pagar pela bolsa e já 
precisava de uma bolsa nova! E daí que eu tinha uma 
coleção de sapatos?
Diga-me. Quem teria alguma coisa a ver com 
isso?
Aquilo era só entre mim, o visa e o mastercard!
Não deveria ser tão difícil de entender. Decidi não remoer nada daquilo ou a raiva voltaria mais uma vez! Saí do banheiro e Matt estava lá, escorado na parede, o blazer sobre o ombro, uma mistura de social, mas com um toque despojado.
Ele havia me esperado ali por horas a fio.
- O que você quer? - indago com uma nota de 
estupidez na voz.
- Pazes. - Ele balança os ingressos do cinema no ar.
Dou alguns passos, me aproximando para ver o filme que ele havia escolhido.
Cinquenta Tons Mais Escuros!
- Ok. Mas você paga a pipoca! - Arranco um dos bilhetes de sua mão e saio rebolando com a cabeça 
erguida.
Claro que o delicioso senhor Grey acalmaria 
meus nervos. E, com sorte, eu sonharia com ele essa noite.
***
Chegamos no meu apartamento quase dez da 
noite. E, como prometido, Matt não tocara mais no assunto de tentar me arrumar um namorado. Na verdade, conversamos sobre a ótima forma física do Jamie Dornan e como a Anastasia Steele era uma mulher de sorte.
- Meu Deus, mulher?! - ele exclama de 
maneira teatral assim que abro a porta. - Cadê sua
empregada!? Morreu no meu da sua bagunça? 
Finjo rir da piada sem graça e largo as sacolas 
sobre o sofá. Ele bate a porta e deixa os calçados na 
entrada e empurrou algumas roupas para o chão para 
atirar-se no outro sofá.
- Faz dois dias que ela não aparece por aqui.
Algo com o marido, dengue, dei um mês de férias 
adiantadas a ela.
- Pelo caos aqui instalado, eu diria que ela não vem há mais de um mês.
Ele ri e desabotoa a camisa um pouco mais para 
ficar à vontade.
- Não exagere. O complicado mesmo está na 
cozinha.
Lembro da luta na noite anterior com a barata 
voando atrás de mim e um arrepio desagradável sobe pela minha espinha.
- Então... era sobre isso que eu queria falar com 
você. - Sirvo uma taça de vinho para mim e outra para 
ele.
- Preciso que tome conta do Gideon e do Grey 
para mim por alguns dias.
Matt pega a taça e reclama enquanto balança o 
vinho antes de degustá-lo.
- Você sabe que eles me odeiam. Por que não os 
deixa em um hotel? Eu pago - sugere com naturalidade. Gideon e Grey eram dois gatos obesos, pretos com belos olhos verdes, meus bebês, mas sempre que Matt aparecia no final de semana, eles sumiam em um protesto silencioso.
- Nãaao! Eles são muito temperamentais. É 
melhor que fiquem aqui, só preciso que você venha uma vez por dia para colocar ração e água fresca. Eu não vou demorar lá.
Sento-me ao lado de Matt e estico as pernas 
sobre seu colo. Recosto no sofá, e ele retira meus scarpins azuis, sinto um alívio nos pés quando ele começa a massageá-los.
- Hummm - gemo de olhos fechados.
- E você tem certeza de que vai se enfiar no 
meio do mato para entrar na briga com o tal Henrique 
Brandão?
Querer, querer, eu realmente não queria.
- Ele colocou para correr um dos advogados da 
empresa de papai. Eu mesma vou lidar com a peça,
colocar esse peãozinho em seu lugar - respondo, abrindo os olhos.
Matt beberica e franze o cenho.
- Você não acha estranho seu pai deixar a 
fazenda para vocês dois? Por que ele faria uma coisa 
dessas?- Lógico que eu acho, e esse é mais um motivo para eu ir investigar pessoalmente.
Bebo o vinho de uma única vez e sinto a acidez adocicada da fina bebida brincar em meu paladar. Aquele vinho valia cada centavo, mesmo que a garrafa custasse pouco mais de dois mil reais.
- Sabe que ele já está se achando o dono da 
fazenda? Quando meu advogado chegou lá e entregou os papéis falando sobre a divisão e venda de tudo, o 
fulaninho o colocou para correr e mijou nos papéis.
Matt riu alto.
- É óbvio que o homem deve ser um selvagem 
ignorante, eu vou até lá, sim, e até o final da semana que vem esse assunto de fazenda e mato já estará mais que resolvido.
- E o que vai fazer quando conseguir convencer 
o Bruto? - debocha.
- Bom... depois que vendermos tudo, pretendo 
comprar um apartamento em Paris ou Nova York, ainda não me decidi.
- À sua vitória sobre o Bruto. - Ele ergue a taça pela metade em um convite para um brinde.
- Esta já está ganha. - Sorrio triunfante.
Eu ainda não sabia que poderia estar errada, mas, 
como dizem por aí, a vida é uma vadia impiedosa e está à espreita para me dar mais uma bela rasteira....
CONTINUA...
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