#Capítulo 9 - Dezesseis anos antes Dimitri

11/04/2018

Um ano havia se passado desde que eu passara no vestibular para medicina na Universidade Federal do Rio, conseguindo o almejado primeiro lugar enchendo minha família de orgulho. "Ao menos um de meus filhos irá seguir os meus passos", foram as palavras de meu pai, mas não era por ele que eu havia escolhido este curso. Era por amor, sempre fui fascinado pelo corpo e pela mente humana, jamais me imaginei fazendo outra coisa. Eu sabia que seriam longos anos de estudos e dedicação com afinco, mas valeria a pena.

- O papai tem dinheiro sobrando, e a clínica da mamãe está rendendo bons lucros. Porque você vai desperdiçar os melhores anos da sua vida estudando? - Adônis arremessava uma bola de tênis contra a parede do quarto.

- Cara, eu não estou desperdiçando nada. Diferente de você, eu gosto de estudar. E não, eu não quero viver às custas dos nossos pais pelo resto da vida. Já basta vivermos nesse apartamento que ele nos deu. - Larguei o marcador de texto verde fluorescente sobre a apostila.

- "Nos deu" uma vírgula! - Ele me corrigiu ainda brincando com a bola. - Ele faz questão de me jogar na cara que o apartamento é seu,

mérito do querido e predileto filho e blá, blá, blá... por ter passado em primeiro blá, blá...

- Sério Adônis, tenho que continuar isso aqui. Segunda feira tenho uma prova de anatomia.

- Então! Quer jeito melhor que estudar anatomia do que mexendo em um corpo de verdade? Não vou permitir que você assassine essa linda sexta-feira se afundando em uma pilha de livros.

- Já disse que não vou em festa nenhuma. - Retruquei, ajeitando os óculos com o dedo indicador.

- Porra, Dimi! Você não podia ser mais "nerd"? Assim você me obriga a pegar pesado. - Ele ameaça, mas volto os olhos para meu livro para

ler o primeiro parágrafo, tentando ignorar sua presença. - Um elefante incomoda muita gente, dois elefantes incomodam muito mais. Três elefantes

incomodam muita gente, quatro elefantes, incomodam, incomodam, incomodam, inco...

- Você é um idiota, sabia? - Fecho o livro com força dando-me por vencido. Ele sorri, vitorioso.

- E você é um lindo. - Adônis ri, debochado. - Ah me enganei, o lindo sou eu, você é só o inteligente.

******

Era possível ouvir a música da calçada, o som reverberando pelas paredes da suntuosa mansão de três andares localizada de frente para o mar.

- A dona da casa é uma gostosa. Todas as curvas nos lugares certos. - Adônis sinaliza com as mãos fazendo a silhueta de um violão no ar.

As luzes estão apagadas, feixes de luz colorida movimentam-se por todo o lugar. Mexo a cabeça acompanhando o ritmo da música, mas na

verdade só consigo pensar no tempo que estou perdendo ali.

- Multiplica, Senhor! - Uma garota gritou em meio aos corpos dançantes.

- Muito prazer, meu nome é Paola! - Ela se inclinou e me deu um beijo na boca, em seus lábios havia o sabor recente de tequila com um toque de limão. O beijo foi rápido, ela me olhou de cima abaixo e riu. - Não, ele não tem cara de nerd. Acho que você estava com medo da competição. - Ela diz ao meu irmão.

Na primeira oportunidade que tive arrastei-a para longe dali, na beira da praia conversamos e nos beijamos, até que nossos lábios formigassem. Era

impossível não se apaixonar por ela e eu acariciei seus cabelos cor de mel, seus olhos azuis, tão expressivos, os lábios grossos, seu corpo sexy sobre o meu.

- Acho que deveríamos voltar. - Paola sussurrou em meu ouvido, ondulando o corpo contra o meu.

- Já tenho tudo o que eu preciso bem aqui. Respondi, tomando-a em um beijo.

******

Janaína

Dias Atuais

Os gemidos se intensificaram, eu quis sair dali de imediato, mas não consegui, pois, um misto de fúria e excitação confundia-me. "Deixa as pernas bem abertas. - Adônis ordenava à mulher com uma voz rouca. - Quero essa bundinha bem empinada. " Senti meu sexo latejar, e a umidade em minha calcinha aumentar. Fechei os olhos por uma fração de segundos, imaginando as mãos quentes e grandes de Adônis mantendo meu corpo na posição exata, arrancando minhas roupas e me possuindo ali mesmo, bruto e selvagem, estocando, uma, duas, três... dez vezes até me levar à beira da loucura.

Meu celular vibrou e um toque extravagante começou a soar. Levei um susto e sai correndo dali sem olhar para trás, morta de vergonha por ser pega espiando. Era apenas mais uma mãe querendo marcar urgentemente um horário com o disputado "Doutor Delícia". Eu tenho que parar de chamá-lo desse jeito, ou vou acabar pegando o hábito e falarei em voz alta. Atualizei a agenda por um aplicativo online e enviei uma mensagem para o "Doutor Gostosão", ops, Doutor Dimitri e só então comecei meu trajeto de volta para casa. Na metade do caminho ouvi Adônis me chamar. Olhei para trás e lá estava ele, correndo em minha direção, os músculos definidos, suados, brilhando a luz do sol.

- Quem disse que eu havia te liberado? - Indagou, ofegante.

- Bem, eu ouvi como estava ocupado no quiosque, então decidi dar privacidade para vocês.

- Estava me espiando? - Ele deu uma risada e estreitou os olhos, e um sorriso de canto surgiu em seu rosto.

- Que espiando o quê! Pornô barato não faz o meu tipo. - Retruco, sentindo o calor subir pelo meu rosto.

- Sei, sei. Vem, vou te pagar um sorvete. Hoje você merece, quase não reclamou.

- Sério? - Pergunto desconfiada.

- Claro que não, só estou te zoando. - Ele ri. - No máximo, uma água de coco.

- Você é um babaca! - Xingo, irritada e faminta. Porque ele tinha que falar em sorvete?

-Que desbocada! Eu sei que isso é só o mal humor da dieta falando, por isso não vou ficar magoado.

Ele debocha de mim e reviro os olhos, soltando o ar dos pulmões ainda me sentindo exausta e irritada. Olho para o outro lado da rua, e vejo Guilherme caminhar com o braço na cintura de uma menina usando uniforme escolar. Adônis olha na mesma direção que eu.

- Matando aula. Pelo visto ela puxou ao tio.

- Oi? -Digo sem entender.

- Nada não, acabei de ver minha sobrinha.

- Aquela menina é filha do Doutor Dimitri? - Ele balança a cabeça em afirmação e volta a me olhar.

- Vem, você precisa comer alguma coisa.

Devoro uma maçã minúscula e bebo uma garrafinha de água de uma única vez. Voltamos para a academia em uma corrida de ritmo moderado.

- A última tarefa de hoje, e então você estará liberada.

Ele me guia, abrindo a porta de vidro fumê e a enorme sala climatizada me faz estremecer. Não reconheço nenhum dos rostos que me

observam, as mulheres olham rapidamente para mim, mas concentram sua atenção em Adônis.

- Espero que aproveite a zumba. - Ele sussurra ao meu ouvido.

- O quê? Mas, eu não sei dançar!

- Então é bom eu preparar a câmera do celular. - Ele ri e meu corpo reage a sua proximidade. Maldito! - Mayara, essa é a Janaína, a partir de hoje fará parte das aulas.

A morena usando roupa de ginástica sorri para mim, me cumprimentando e coloca um pendrive no player.

- Meninas, deem boas-vindas para colega nova. - A professora grita animada.

Ah, Adônis! Eu vou te matar quando essa aula acabar. O grupo dá gritinhos e uma delas me chama para ficar na fileira da frente. A música alta começa, e tento acompanhar os passos, desajeitadamente. Quando a professora dá passos ágeis, pulos e giros, eu tento repetir a sequência, amaldiçoando-o por ter me colocado naquela aula. Definitivamente coordenação motora não era meu forte. Gira, rebola e mexe para um lado para o outro, minha vontade era correr de volta para casa, mas aguentei até o fim - Você foi bem, é normal ficar meio perdida no início, mas depois você pega o jeito. Te vejo na sexta? - A professora veio falar comigo ao final da aula.

"Pode esperar sentada se acha que eu vou voltar", era o que eu queria dizer, mas a única coisa que consegui falar foi - Claro!

******

Quatro dias se passaram desde que eu havia começado a trabalhar como secretária do "Doutor Delícia" e, apesar de cansativos, os meus dias passavam rápido. A não ser pela fome que estava sentindo, eu achava que estava indo bem. O último casal havia ido embora e eu estava organizando a

mesa do doutor quando ele saiu do consultório para atender um telefonema.

Abri a primeira gaveta para guardar a agenda e deparei-me com os pirulitos e doces que Dimitri dava ao final das consultas para os pequenos.

"Só um Jana, você merece uma recompensa, malhou pesado essa semana, o doutor não vai se importar". Estiquei a mão para pegar um chiclete. "Não, chiclete não, pega logo o saquinho de pipoca doce, ou o chocolate". A diabinha em minha mente vibrava, ansiosa pela travessura.

Apanhei o saquinho cor de rosa de pipoca, meus dedos estavam tremendo, quando abri o pacote a voz de Dimitri me chamando me fez derrubar espalhando pipoca para todos os lados.

- Merda! - Xinguei baixinho e fiquei de quatro para recolher tudo antes que ele voltasse para a sala.

- Jana, você viu minha agenda? -A voz dele ainda é distante, talvez dê tempo. - Janaína?

- Já vou, doutor!

- Jana? - Olho para cima e lá está ele tirando o jaleco deixando sobre a cadeira, achando graça- O que aconteceu?

- Essa dieta está me matando. - Reclamo, esfregando o rosto, morta de vergonha. - Abri sua gaveta e resolvi comer um docinho antes que você voltasse.

Ele arqueia as sobrancelhas e parece segurar o riso.

- Não sou como o Adônis, Jana. Não vou te punir por sair da dieta.

- Dimitri se abaixa e termina de recolher os últimos grãos comigo. - Acho que um doce, uma vez ou outra, não vai jogar seu desempenho por água abaixo. Quando eu fiquei acima do peso decidi me permitir uma refeição livre por semana, era o único jeito de não quebrar a dieta todos os dias e me manter focado.

O "Doutor Delícia", fora de forma? Está aí uma coisa que eu não consigo imaginar.

-Parece uma boa ideia. - Digo, ainda envergonhada. - Às vezes fica difícil resistir.

Estendo a mão para que ele me entregue as pipocas, mas ele me puxa pelo pulso e eu caio em cima dele. Dimitri se debruça contra meu corpo, sinto o peso de seus músculos e toda sua rigidez. Ele se posiciona entre minhas pernas, pressionando sua ereção contra meu sexo. Mordo o lábio inferior, esperando indefesa por seu ataque, ele me olha quente e faminto.

-Você está me deixando louco... - Sua voz é rouca e me excita ainda mais. Ele solta meus pulsos e suas mãos deslizam por todo o meu corpo. Sua boca devora a minha, sua língua explorando-me fazendo eu querer mais e mais.

- Doutor... - Gemo, tonta de prazer.

- Pai? - A voz vem de fora da sala.

Dimitri salta para trás e se afasta, ajeitando a camisa desabotoada.

Meu coração ainda martela em minha caixa torácica, quase arrebentando meu peito. Não foi sonho. NÃO FOI SONHO! Que beijo foi esse, Senhor? Eu fico de pé, e minhas pernas tremem como gelatina. Passo as mãos pelos cabelos e meus dedos roçaram de leves em meus lábios eu ainda tinha na boca o delicioso sabor de seu beijo, aquilo era bom demais para ser verdade.

- Pai? Você tá por aí? - A mesma menina que eu vira abraçada em meu filho agora estava parada na porta da sala do "Doutor Gostosão".

Bem, agora que eu sei que não foi um sonho, eu posso dizer: do meu "Doutor Delícia Gostosão".

- Oi filha. - Dimitri caminha até a garota e a abraça. - Jana, essa é a minha filha Sara.

- É um prazer. - Estico a mão para cumprimentá-la e ela retribui o gesto sorrindo.

- Eu cheguei na hora errada? - Ela pergunta, conferindo no celular o horário.

Claro que chegou! Penso, ainda sentindo o efeito de Dimitri em meu corpo.

-Com licença, Doutor, acho que já hora de eu ir para casa. - Aproveito a deixa para escapar, mas a voz dele me faz parar no caminho.

- Janaína, espere. - Meu corpo inteiro se aquece e então me viro para encará-lo.

- Sim, Doutor?

-Estamos indo à uma pizzaria aqui perto. Porque você não se junta à nós?

Pizza? Eu queria mesmo é continuar de onde paramos. Será que eu sonhei isso? Por Deus não pode ter sido sonho, pois diferente de minhas

fantasias, o sabor de seu beijo ainda permanece em meus lábios.

-Hum... acho que Pizza não está na lista dos alimentos permitidos pelo "DD". - Brinco, lembrando da minha dieta.

- "DD? "

- "Ditador da Dieta", mais conhecido por você como "Adônis", "irmão" ou "bróder", sei lá como vocês se chamam.

- Bem, em primeiro lugar, espero que você tenha uma sigla especial para mim também. Em segundo lugar, provavelmente ele não aprovaria uma refeição deste tipo, mas irritar o Adônis é um hobby que eu

acho extremamente divertido. - Dimitri sorri e percebo que ele não aceitará um não como resposta.

- Vamos logo, eu estou faminta. - A menina ri enquanto digita uma mensagem no celular. Será que ela está falando com Guilherme? - Até porque, se demorarmos demais, não conseguiremos mesa livre.

-Você venceu, Doutor. Só vou pegar minha bolsa. - Saio da sala e vou até minha cadeira. Tiro da bolsa um pequeno espelho e confiro o cabelo.

Meu rosto está mais corado e não há rastros do batom, culpa do Doutor. Que beijo foi aquele? Impulsivo e quente como o inferno. Retoco o batom rosa claro e dou uma cheiradinha rápida na blusa, conferindo se o desodorante ainda está ok.

- Então pai, se não se importar mandei uma mensagem para o Gui.

Ele está aqui por perto. - Gui? O meu Guilherme? Jantando junto conosco?

Fernando com certeza iria subir pelas paredes!

- Pode ser. É bom que ele seja à prova de balas, não quero gracinhas, ouviu senhorita? - Ele torce a boca, mas aceita.

- Para pai! - Ela o puxa pelo braço e sorri, animada com a aceitação forçada do Doutor.

Pai super protetor... esse jantar promete.

******

A pizzaria ficava no final da rua. Havíamos caminhado por apenas uma quadra, o Doutor ao meu lado e a filha do outro, quando paramos em frente ao restaurante.

- Mãe? - A voz surpresa de Guilherme me pegou desprevenida.

Olho para o meu filho mais velho, ou melhor dizendo, o que nasceu primeiro. Ele veste uma camisa polo e um jeans que, se eu me lembro bem,

estava na pilha de roupas para passar há pelo menos duas semanas e calça um All Star que parece ter sido comprado há pouco. Isso me faz perceber que Nando não está dormindo no ponto. Tenho certeza que ele está tentando comprar os meninos.

- Pai, este é o Guilherme. Gui, este é meu Pai, Dimitri. - Sara faz as apresentações e eles se cumprimentam, mas o "Meu Doutor avalia meu filho com ar desconfiado.

- É um prazer. - Dimitri diz.

- O prazer é meu, senhor. - Meu filho responde com toda a educação que eu o ensinei a ter. Quando ele se afasta Dimitri me olha, provavelmente pensando se eu já sabia ou não da relação dos dois.

- O Rio não é tão grande assim, isso até parece novela onde todo mundo se conhece. - Brinco, me fazendo de desentendida.

A porta do restaurante é aberta e um delicioso e convidativo cheiro nos convida a entrar. Somos recebidos por um maítre, que sorri de maneira cordial.

- Boa noite, Doutor.

- Boa noite, Anderson. - Dimitri cumprimenta o rapaz moreno que tem um tablet na mão. - Rodízio para quatro, por favor.

Rodízio de pizza! Eu definitivamente ganhei na loteria hoje!

O rapaz sorri, e nos guia até uma mesa retangular de madeira. As mesas do lugar estão dispostas pelo amplo salão e têm toalhas vermelhas com pequenos arranjos centralizados de flores brancas e pequenos ramos brancos.

Nas laterais, bancos de couro vermelho completavam o ambiente.

Sara é a primeira a sentar, meu filho senta ao seu lado. Comemoro mentalmente com gritinhos eufóricos, pois sentarei ao lado do "Meu Doutor".

Dimitri espera que eu me acomode e depois se junta a nós.

O garçom nos entrega a carta e eu me pego pensando se eu deveria pedir uma bebida. Nossa, estou louca por uma Coca Cola bem gelada! Passei

a semana inteira só com frutas, saladas e água. Isso sem falar nas sementes que Adônis me dava entre um exercício e outro. Meu estômago estava quase

dando um nó. Se demorasse mais um pouco ele saltaria pela boca e se serviria

sozinho, tamanha a fome que eu estava.

- Uma Coca. Com gelo e limão, por favor. - Limão? Não! Sem fruta essa noite! - Quer dizer, só gelo, obrigada.

- O mesmo para mim. - Dimitri informa ao rapaz, devolvendo a carta.

Sara pede um suco de laranja e nossa atenção se volta para Guilherme, que pede um refrigerante também, ainda jeito e um pouco tímido.

Quase não o reconheço, ele tem a minha personalidade, fala até pelos cotovelos, deve estar nervoso com a forma com que Dimitri o olha.

Assim que o garçom marca nossos pedidos, ele sai apressado, desviando de outro funcionário que equilibra uma bandeja com destreza.

Desviro meu prato e torço para que a primeira pizza não seja uma daquelas vegetarianas com rúcula e tomate.

- Como se conheceram? - Dimitri apoia os cotovelos sobre a mesa, entrelaçando os dedos e pergunta ao meu filho.

-Calabresa? - O garçom interrompe a pergunta quando se aproxima e oferece a pizza, e eu aceito sem nenhuma cerimônia. Hoje vou tirar a barriga da miséria!

- Do curso de inglês. - Sara responde.

O garçom serve um pedaço para cada e segue seu rumo. Estou tão faminta que minha vontade era ter pedido logo dois pedaços. O sabor picante da calabresa, o queijo derretendo na boca, a massa fininha e crocante...

- Hummm, que delícia! - Gemo, saboreando o primeiro pedaço e Dimitri relaxa um pouco sua postura e sorri parecendo satisfeito com minha reação.

A noite segue tranquila, eu quase não falo devorando as pizzas como se não houvesse amanhã e o doutor me acompanha, acho que comendo tanto quanto eu. Relaxo no recosto do banco e bebo o último gole de refrigerante.

Sara e Guilherme saem da mesa para cumprimentar alguns amigos que estão há algumas mesas de distância e sinto a mão de Dimitri roçar contra a minha debaixo da mesa. Eu sorrio e abaixo a cabeça timidamente, seu toque faz meu corpo se aquecer mais uma vez, e a memória do beijo se faz presente em minha mente.

Sara volta com um sorriso no rosto. Ah menina, você chega sempre nos piores momentos!

- Pai, o Gui e eu vamos ao cinema com a galera, pode ser? Ele me deixa em casa quando a sessão acabar.

Dimitri aceita, não tão relutante, examinando enquanto meu filho se aproxima. Eu me levanto sentindo o estômago pesado. Não consigo mais sentir nem o cheiro das pizzas.

- Até mais, senhor. Tchau mãe. - Guilherme se despede e segue com a filha do Doutor para o grupo de amigos, que conversam animadamente em outra mesa. Dimitri se encaminha para a recepção, mas o maítre o informa que a conta já foi paga. Isso garoto! Vibro ao ouvir que Gui já havia aprendido direitinho o que eu havia ensinado.

Deixamos o restaurante e voltamos para o edifício para que ele pegue sua moto. Não sei o que dizer, me sinto como uma colegial envergonhada quando ele caminha ao meu lado em silêncio. Será que ele está arrependido por ter me beijado? Caminhamos pela garagem iluminada, onde alguns carros ainda estão estacionados. À distância, já avisto a moto do

doutor e o celular vibra na minha bolsa. Pelo menos eu poderia quebrar aquele silêncio que estava me corroendo.

- Deve ser o chato do seu irmão, ou alguma mãe desesperada por algum horário para segunda fei... - Não consigo terminar a frase, pois sou pega de surpresa quando Dimitri me prensa contra uma coluna de cimento frio e a alça da minha bolsa escorrega pelo meu braço e cai no chão. O celular se espatifa sobre o concreto, mas, quem liga? Eu só consigo dar atenção para o semideus que me devora, sua boca desce pelo meu pescoço, mordiscando e chupando minha pele que parece estar prestes a entrar em chamas. Minhas mãos percorreram por seus braços até chegar em seus cabelos, bagunçando os fios sedosos e macios.

-Ah... Doutor...- Gemo quando ele agarra meus seios, e faz meu corpo estremecer de prazer em expectativa. Em modo automático eu ergo uma perna envolta de sua cintura e sinto a rigidez de seu membro pressionar contra meu ventre. - E se chegar alguém? - Sussurro com dificuldade - Você... Quer... Quer que eu pare? - Ele me provoca, mordiscando meu pescoço fazendo uma cachoeira descer por minhas pernas.

- Você quer? - Dimitri pergunta de novo, pressionando sua virilidade contra mim e eu gemo, agarrando-me em seus braços musculosos.

- Não, por favor, não pare! - Seus dedos deslizam por minha calça e meu corpo inteiro treme com a miríade de sensações. Calor, desejo, excitação.

O som de um alarme de carro nos faz congelar. Prendo a respiração quando ele afasta o corpo do meu e sorri, e então se agacha e recolhe o celular, pelo menos o que sobrou dele. Três mulheres caminham e conversam animadas e, ao verem o doutor, acenam cumprimentando-o. Nossa senhora!

Acho que meu coração não vai aguentar tanta emoção, sinto meu ritmo acelerado.

Dimitri se levanta em uma economia de movimentos e me entrega a bolsa. Ele coloca a mão logo acima de minha cintura e segue a meu lado, com um sorriso discreto. "Doutor Delícia"... você não é tão santinho quanto eu imaginava!

******

Desço da moto e entrego o capacete quando chegamos em frente à casa de Joana. O carro parado na garagem me lança uma pontada de decepção: eles chegaram mais cedo. DROGA!

- É melhor eu entrar. - Daqui a pouco minha irmã aparece aqui e vai querer te arrastar para dentro, te encher de perguntas e me mataria de vergonha. Até mais, doutor. - Dimitri não insiste e acelera a moto, dando uma piscadela antes de baixar o capacete e sair em disparada. Sigo flutuando para dentro da casa, ainda sob efeito do "Doutor Gostosão", com as pernas parecendo gelatina.

Joana me recepciona com um bombardeio de perguntas. Algumas eu respondo, outras eu desconverso. Quando ela finalmente me deixa, já passa das onze e eu preciso de um banho, mas não quero que o perfume de Dimitri saia de minhas roupas, principalmente de meu corpo, que homem cheiroso!

Infelizmente, eu precisava de roupas limpas, não podia mais usar as coisas da minha irmã, e meu guarda-roupa estava do outro lado da rua Era meia noite quando passei pela porta da frente da minha casa.

Esperei o máximo que pude para ir até lá, pois tinha a esperança de que Fernando já estivesse dormindo quando eu fosse pegar minhas roupas. Eu estava feliz demais para ter uma discussão com ele. Queria conservar aquela euforia até segunda feira, quando eu veria o "Meu Doutor" de novo, mas as vezes querer não é poder.

- Garotos, venham até aqui! - Nando gritou quando me viu passar pela sala. Guilherme, Gustavo e Gabriel vieram, com cara de poucos amigos.

- Não faz cena, Fernando. - O repreendi, olhando para nossos filhos.

- Sua mãe está nos deixando. Dezoito anos de casamento jogados fora. - Nando brada, apontado para o olho roxo e um corte na boca. - Isso é o que eu ganho depois de todo esse tempo.

- Eu não estou deixando vocês. - Corrijo, sentindo a irritação crescer dentro de mim. - Estou deixando apenas você, Fernando.

- Vou pegar minhas roupas. - Tiro do dedo a aliança de casamento na mão esquerda e atiro contra ele e saio pisando duro, indo para o quarto. Abro as portas do armário, mas não há nada lá. Sapatos, blusas, calças. Filho da mãe.

- Você é uma ingrata, Janaína! - Nando retruca da porta do quarto, ressentido.

- Cadê as minhas roupas, Fernando?

- Queimei tudo! - Ele diz com orgulho. - Eu paguei por elas, se quer ir embora você vai sair sem nada.

- Você é um imbecil, não sei porque não te deixei antes! - Rebati sentindo os olhos arderem e me viro para encará-lo. - Se você quer guerra, então vai ter guerra.

******

Voltei para a casa de Joana e fiquei mais algumas horas na internet procurando um lugar para chamar de meu. Adormeci com o celular na mão.

Senti o aparelho vibrar entre meus dedos. Não, não, não! Até aos sábados?

- Alô? - Resmungo, mal-humorada.

- Bom dia, cunhada! - A voz de Adônis é debochada e não preciso vê-lo para saber que está sorrindo, o prazer sádico que ele sente ao me acordar cedo. Aff...

- Hoje é sábado. - Retruco, sem conseguir abrir os olhos.

- Se me fizer esperar muito, vou pegar pesado nos agachamentos e abdominais.

- Não... - Gemo. - Já estou indo.

Saio do sofá me arrastando e vou para a cozinha pegar uma maçã.

Dou uma generosa mordida e continuo a me vestir sem um pingo de ânimo.

O celular vibra de novo em meio as almofadas do sofá.

- O que é agora, Adônis? Posso me vestir, ou você quer que eu malhe pelada?

- Você dorme sem roupa? - Ele pergunta em tom de surpresa. E eu bufo, prestes a desligar o celular decidida a voltar a dormir depois dessa.

- Vem logo, tenho uma surpresa para você.

Oi? Me ajoelho sobre o sofá e espio pela janela da sala sem entender direito o que diabos ele está carregando.

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