#Capítulo 8- Janaína

09/04/2018

- Irmão é uma barra, né? - Puxo conversa, meu dedo desliza pelos desenhos geométricos da porcelana branca. - Na adolescência, eu e a Jô vivíamos nos engalfinhando. - Dimitri me lança um olhar de cachorro sem dono que me derrete. Tomo um gole do café preto e não consigo evitar uma careta.

- Não entendo o porquê, mas Adônis sempre achou que, por algum, motivo era necessário estar sempre competindo comigo. Fosse pela atenção de nossos pais, pelas garotas na adolescência e, agora, pela atenção de minha filha, Sara.

Me acomodo no sofá e afasto o café, deixando-o sobre a mesinha à nossa frente, o que me faz chegar um pouco mais perto dele. Nossa, que homem cheiroso! Inspiro devagar me deliciando com o perfume que se desprende suavemente de Dimitri à medida que ele se movimenta.

- E a sua mulher, o que acha disso? - Pergunto como quem não quer nada.

- Sou viúvo. - Responde, com uma pontada de tristeza na voz.

- Nossa, me desculpe. - Digo sem jeito, mas a diabinha dentro de mim vibra, dando saltos mortais de pura felicidade. "Iuhulll! Ele não é casado, ele não é casado! " Canto mentalmente.

- Tivemos uma filha juntos. - Quando ele fala da menina sua voz se alegra aos poucos. - Ela está na famosa "aborrescência".

-Ah, meu Deus, boa sorte! - Desejo, dando-lhe um tapinha no

ombro, e sinto a rigidez de seus músculos por baixo do jaleco. Que homem gostoso!

- Tenho trigêmeos, mas os meus já passaram da fase "rebelde sem causa".

- Três? - Ele exclama, espantado.

- Sim. - Dou uma risada ao lembrar dos meus "filhotes". - Mas não são idênticos, como você e Adônis.

O celular vibra no bolso da calça jeans e eu o atendo.

- Boa tarde, consultório do Doutor Assunção.

******

A última mãe havia saído do consultório e tudo estava em seu devido lugar. A tarde passou voando, mas ondas lancinantes de dor irradiavam por minhas pernas e braços, e cada vez que eu respirava um pouco mais fundo, minha barriga doía sem dó. Maldito Adônis! A lembrança dele entrando na água do mar, mergulhando o corpo suado depois de algumas horas de malhação, me veio à mente.

- Janaína, vamos, vou te levar até em casa. - Dimitri surge na

porta do consultório, e já não está mais vestindo seu jaleco, nem mesmo o estetoscópio que deixa ao redor do pescoço.

- Não, não é necessário, doutor. - Digo com uma pontada de vergonha. - Não precisa se incomodar. Vou chamar um Uber.

- Não é incômodo, e também não é um pedido. Você acabou indo além do seu horário, bem no seu primeiro dia de trabalho. Se você for de carro vai demorar horas no trânsito.

"Se não for de carro vou de quê? A pé é inviável, não sei nem se consigo chegar até o saguão do edifício, tamanho é o meu cansaço", penso, enquanto Dimitri toca em minha cintura, me guiando um pouco para o lado, e sinto um calor irradiar por meu corpo. Ele se abaixa e desliza uma porta no armário debaixo do balcão.

- Eu deixo esse capacete aqui. Quando minha filha aparece nas sextas-feiras, voltamos juntos para casa. Deve servir em você.

Moto? Eu tenho pavor de moto.

- Acho que não é uma boa ideia, Doutor. Tenho verdadeiro pânico de moto. Vou acabar derrubando a nós dois. - Apesar da ideia de ficar agarrada ao corpo de Dimitri ser tentadora, não havia Cristo nesse mundo que me fizesse subir de novo em uma moto. Obrigada Nando, seu filho da mãe, por mais um trauma.

- Você não vai dizer "não" para mim, vai? - Dimitri volta a ficar em pé e ergo a cabeça para conseguir encará-lo. Ele exibe um sorriso de canto, seu olhar alegre e convidativo faz minhas pernas estremecerem.

- Você é bem teimoso, sabia? - Eu retruco, revirando os olhos.

- É provável que alguém já tenho me dito isso, algumas vezes. - Meu coração acelera ainda mais com a nossa proximidade. Descemos de elevador até o subsolo e caminhamos sem pressa pela garagem. - Uma hora

você vai ter que me contar porque tem tanto medo de andar de moto. - Ele sorri, sentindo-se vitorioso por ter me convencido.

- Nem morta! - Rebato, olhando para a motocicleta preta à nossa frente. - Oh meu Deus! Alguém liga para o Bruce Wayne para avisar que ele esqueceu a moto do Batman aqui!

- Muito engraçadinha você! - Ele coloca o capacete e monta na motocicleta, que parece ter saído direto do filme Velozes e Furiosos.

"Engraçadinho é esse seu bumbum", penso, dando mais uma espiada enquanto coloco meu capacete. Me reprendo silenciosamente e monto na moto com corpo inteiro vibrando em um misto excitante de medo e tesão.

Coloco os braços para trás e me seguro na ponta do banco, mas ouço a voz de Dimitri saindo abafada pelo capacete.

- Me dá seus braços.

- O quê? - Grito, e Dimitri coloca as mãos para trás me pegando pelos pulsos, posicionando meus braços em torno de sua cintura.

- Segura firme! - Adverte em voz alta.

Ai meu Deus, ai meu Deus, ai meu Deus! Vou morrer!

Não pense em morte, não pense em morte, pense em algo gostoso!

Chocolate... Dimitri... Dimitri coberto em chocolate... hum...

A moto ronca debaixo de nós e o motor reverbera fazendo meu corpo vibrar. Fico de olhos fechados e sinto que já estamos nos afastando do prédio quando o vento sopra mais frio contra nossos corpos, meus braços o agarram com força, posso sentir a dureza de seus músculos e seu abdômen definido. Meu Deus, como eu tenho um fraco por homem cheiroso! Recosto a cabeça em suas costas e continuo mantendo meu corpo colado ao dele. Sinto meus mamilos se endurecerem, ah, ele vai me deixar louca desse jeito! Será que estamos longe? De repente me pego torcendo para que o trajeto não seja tão rápido, o medo é substituído apenas pelo desejo.

O vento diminui, assim como a nossa velocidade e chego à triste conclusão de que estamos parando. Abro os olhos e reconheço minha rua enquanto Dimitri para próximo ao meio fio. Demoro um segundo ou dois antes de soltar seu corpo, e inspiro fundo seu perfume querendo guardá-lo só para mim.

Ouço latidos no portão e desço da moto, retirando o capacete. Ele apenas ergue o seu até o topo da cabeça, a íris azulada adornada pelos fartos cílios loiros, simplesmente lindo. Janaína, acorda!

- Viu? Foi mais rápido assim. - Ele sorri, exibindo dentes

perfeitos.

- Verdade. - Ergo as mãos dando-me por vencida. - Bem, eu

realmente preciso de um banho e de um bom descanso. Seu irmão quase me matou hoje.

- Tudo bem. Bom descanso, e guarde alguma energia para mim. - Dimitri brinca.

- Mas você não tem mais nenhum pingo de vergonha na cara, né Janaína? Te dei casa, comida, boa educação para nossos filhos, nunca te faltou nada, sua ingrata! A culpa não é minha se você pesa cem quilos!

Porque, sabe o que você é Janaína? - A voz enrolada de Nando me pega de surpresa. Ele cambaleia em minha direção. Olho para Dimitri, sentindo o rosto queimar de vergonha. Volto a encarar Nando agora me enfrenta aos gritos. Entrego o capacete sem ter coragem de olhar nos olhos de Dimitri novamente e tento puxar meu marido para o pátio, mas ele continua a gritar.

- Você é uma vagabunda, gorda e sem coração! - Ele berra aos quatro ventos, me matando de humilhação.

Nossos vizinhos começam a aparecer nas janelas de suas casas para espiar o escândalo que está se formando.

- Me solta, mulher! - Nando me afasta com um empurrão. O salto fino de minha sandália prende em uma pedra da calçada e eu tento me segurar, meus braços se agitam tentando agarrar-se a qualquer ponto fixo e sólido, mas desabo no chão.

Dimitri desce da moto imediatamente e me ajuda a levantar. Estou morta de vergonha, sinto os olhares fofoqueiros e curiosos queimando sobre nós.

- Solta minha mulher! Essa sem vergonha ainda é mi... - Nando não consegue terminar a frase. Demoro alguns segundos para entender o que está acontecendo, mas vejo que Dimitri está sobre Nando, que está caído na calçada. Um, dois, três, socos, certeiros em seu rosto. Posso sentir a fúria que emana do corpo do Doutor, enquanto Nando tenta, inutilmente, se desviar dos golpes.

- Dimitri, você vai matá-lo! - Grito, horrorizada com a cena. Ele se afasta e volta a ficar de pé. Nando rasteja até o portão e se apoia nas grades para conseguir levantar. Há sangue na camisa de Dimitri. Ele me encara com expressão preocupada.

- Põe o capacete. Agora! Você não vai entrar com esse cara! - Ele olha com raiva para Nando, que cambaleia para dentro de casa sem olhar para trás. - Vou te levar para um hotel.

- Não, Dimitri. Chega de confusão. - Sussurro. - Vou ficar na

casa de minha irmã por alguns dias, até achar um novo lugar para mim.

- Então, sobe na moto. Eu te levo.

- Você já o fez. - Aponto para a casa do outro lado da rua.

- Espero que eu não te cause mais problemas. A vizinhança toda está olhando.

- Eu sei. Eles vão ter o que falar por pelo menos uma semana. - Retruco irritada, se tem coisa que eu odeio é gente fofoqueira. Ele ri, achando graça.

- Vê se te cuida. - Dimitri abaixa o capacete e liga a moto.

Observo sua silhueta desaparecer na noite e só então atravesso a rua e vou para casa de Joana.

******

Depois de um banho, um interrogatório minucioso sobre o "Doutor Gostosão" e a confusão no jardim em frente, Joana finalmente me deixa dormir, ou quase isso, já que eu pego no sono assistindo Grey's Anatomy.

Para minha tortura, o sofá não é tão confortável quanto a minha antiga cama, isso sem falar no gato que insistiu em brincar com meus cachos enquanto eu dormia, ou pelo menos tentava dormir. O celular vibra entre as almofadas.

"Não, não, não! " Gemo ao esticar o braço para encontrá-lo. Meu corpo protesta, e a dor aumenta um pouco mais.

- Alô. - Digo sem paciência.

- Janaína, eu só liguei para saber como você está. Não consegui parar de pensar sobe ontem.

- Dimitri? -Ajeito-me no sofá.

- Quem você pensou que seria?

- Me desculpe, doutor. Achei que poderia ser seu irmão, já que da última vez ele me fez cair da cama para malhar de madrugada. - Reclamo e bocejo, escutando uma risada do outro lado da linha.

- Eu já disse, você vai ter que aprender a descobrir a diferença

entre nós.

Arggg! Adônis!

- Ah, não! - Gemo, sufocando um grito. - Sério? A essa hora?

Olha, eu estou com muita dor. Não podemos fazer isso um dia sim e outro

não? E, de preferência, em um horário de gente normal?

-Hum. - Ele murmura, como se estivesse pensando no assunto. -

Claro que não. Isso não seria nada divertido.

Adônis encerra a ligação, sem ao menos se despedir. Meus olhos se

fecham sozinhos, mas o celular vibra de novo entre meus dedos. "Uma

mensagem recebida". É uma selfie de Adônis ao lado de Thor, sentado com a

cabeça escorada na grade de meu portão.

Bufo e levanto do sofá, ainda sonolenta. Pego um cacho de uvas e

vou mordiscando enquanto troco de roupa na penumbra da sala. Saio sem

fazer barulho e lá está ele, na maior amizade com meu cachorro. Não consigo

parar de bocejar. Jogo na boca a última uva e mostro a ele o cacho vazio.

- Hum, muito bem! - Adônis fica em pé, exibindo o belo corpo.

Hoje ele veste uma regata branca, justa como a justiça de Deus, e calças escuras.

Eu me vesti completamente de preto, legging, top, regata e tênis, a cor neste caso, refletindo meu estado de humor atual.

- Vamos acabar logo com isso! - Resmungo.

-Essa é a minha garota, animada e disposta! - Ele debocha e inicia a corrida.

As horas seguintes são tortuosas: corrida até a academia, exercícios de musculação para as todos as regiões do corpo, mais alguns abdominais e

uma corrida de volta ao ponto inicial, a praia.

- Para, pelo amor de Deus, você está me matando! - Caí na areia ensopada de suor.

- Calma, esse esforço todo vai valer a pena. Agora seja uma boa menina e espere aqui, vou trazer uma água. - Com esse tom, ele até poderia se passar por humano, mas eu sei que aquele monstro estava gargalhando da minha desgraça por dentro.

Fiquei ali, entre a vida e a morte, mais para a morte do que para vida para ser bem sincera, meus olhos ainda fechados, recuperando a energia aos

poucos. Após alguns minutos, olho de um lado para o outro na areia, procurando por Adônis, mas não vi sinal dele nem da garota que atendia às mesas.

Ué? Cadê ele?

Me levantei e caminhei até o quiosque, que parecia estar abandonado. Cheguei um pouco mais perto da bancada e pude ouvir os gemidos vindos de algum lugar dali.

- Vai Adônis, vai... - A garota gemia em um êxtase de prazer.

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