#CAPÍTULO 26
20/06/2018
Finalmente estou de volta. Marli ficou muito feliz com meu regresso e muito eufórica por ver que minha mãe veio comigo.- A surpresa veio em dobro! - Marli fala enquanto abraça a mim e em seguida a minha mãe. - Estou vendo que a dona Beth te tratou muito bem. Está até mais gordo.- Você acha mesmo que eu ia deixar meu filho passar fome, Marli?Ainda mais sabendo que você iria inspecioná-lo assim que ele chegasse? Deifoi muito bacalhau com batatas para ele.- Ei, vamos? - Interrompo as duas matracas. - Estou muito cansado e varado de fome. Fez o que para o jantar Marli? - pergunto curioso.- Aquela lasanha de frango que você tanto ama. Cheia de queijo e milho - responde orgulhosa. - Ah, também comprei aquele vinho de nome esquisito que você sempre toma acompanhando. Na sua adega já não tinhamais...- Nossa, mas que mulher mais perfeita eu tenho em casa. Se você fizesse meu tipo, te pediria em casamento agora - digo rindo e elas me acompanham.Deixamos o aeroporto em direção a minha casa. A minha vontade neste momento é dirigir até a casa da Manu e conversar com ela, mas sei que o melhor é esperar e resolver primeiro a minha vida com meu pai e a BioFort.Ter ficado esses dias com a minha mãe me fez ter outra visão do homem que eu era. Vi o quanto sujo e mesquinho fui com as pessoas que passaram pela minha vida e o quanto perdi pessoas importantes com isso.Tenho vários danos a reparar e será uma tarefa árdua, mas se quero que a Manu ame o Bernardo, tenho que agir como o Vicente, sendo sensato, amoroso e mostrando a ela que tenho um bom coração.Estar apaixonado é tão confuso. É um misto de sensação boa e ruim.Sinto-me bem com esse sentimento e também me sinto estranho. Fico só pensando coisas sobre o amor e filosofando, vendo a Manu em cada detalhe simples que antes nem notaria. E isso acaba me incomodando de certa forma,parece que fere minha masculinidade, pois sempre aprendi que homem fode e não se apega e após o que aconteceu comigo e com a Diana, passei a levar isso ao pé da letra. Daí agora, fico sonhando acordado como uma mulherzinha. É, o amor é um sentimento louco mesmo.Chegamos em casa e sinto que finalmente estou onde deveria estar. No meu lar, doce lar.O cheiro da lasanha tomou conta do apartamento todo. Esse clima familiar me faz perceber que ainda falta algo. Falta uma mulher para chamar de minha. Que me faça companhia e converse comigo sobre meu dia.Deixo as malas no canto e corro para a cozinha,para devorar o jantar. A viagem além de cansativa me deu muita fome. Hoje só quero descansar, porque sei que amanhã o dia será exaustivo.Acordo sem o despertador. Dei-me ao luxo de dormir até o corpo cansar de ficar na cama.Pego o celular e vejo que ainda são dez e vinte. Pela claridade pensei que já estivesse perto do meio dia.Sem me levantar, digito uma mensagem para a Alícia.Bom dia. Sabe de algo sobre a Manu?Durante os dias os quais fiquei em Portugal, não perguntei a ela e nem a Becca, nada sobre a Manu, eu não queria ficar sabendo de algo que me fizesse retornar antes de achar que estaria pronto.Poucos minutos depois, recebo a resposta.Olha, olha. Quem é vivo sempre aparece. Sim, sei algo sobre a Emanuelle Fernandes.Alícia só pode estar de brincadeira. Ela sabe muito bem que eu quero informações. Ligo para ela, insistentemente, até que na quinta vez me atende.- Tá ficando maluca Alícia? Por que demorou tanto a me atender? - Disparo.- Bom dia para você também, Bê. Estou com um cliente aqui. Logo te retorno, pode ser?- Alícia, o caralho que vou esperar. Você já me atendeu, agora quem quer que esteja te comendo pode esperar - falo sentando na cama.- Bê, eu achei que você tivesse melhorado com a viagem, mas percebo que continua o mesmo escroto de sempre... - responde com a vozfraca.Noto que fui rude demais com ela sem motivos.- Me desculpe Alícia - peço com sinceridade. - Quando puder me ligue então.- Agora sim. Eu estava brincado, não tem ninguém aqui comigo.Quero te falar sobre a Manu em um almoço, pode ser?- Quer vir almoçar aqui? Marli irá fazer uma picanha com bacon e alho...- Daqui há uma hora estarei aí - fala desligando em seguida.Levanto e vou ao banheiro mijar. Aproveito já para fazer a minha higiene e me arrumar. Quero almoçar com a Alícia e depois ir a BioFort com a minha mãe.Pela movimentação na casa, vejo que as duas já estão a todo vapor com as fofocas.Saio do quarto pegando as duas de surpresa. Minha mãe estava contando a ela sobre irmos à BioFort hoje.- Eita fofoca boa - digo pegando um pedaço de pão que está sobre a mesa.- Não estamos fofocando. - Marli defende-se. - Nós estamos colocando os assuntos em dia.- Sei... a propósito Marli, coloque mais um lugar a mesa que a Alícia vem almoçar com a gente - peço.- Eu gosto dessa moça - Marli fala mais para si do que para mim.- Eu também. Vou para o escritório ver alguns e-mails e dar alguns telefonemas. Quando ela chegar me avise, por favor.- Filho - minha mãe me chama e me viro. - Fica calmo tá? Vai dar tudo certo.- Assim espero dona Beth.Entro no escritório tentando ser tão otimista quanto a minha mãe. Sei que meu pai não ficará nada feliz quando souber que quero ser o presidente da empresa.Checo alguns e-mails sem importância. Não vou mentir que não estou nervoso com a conversa que terei com meu pai, mas o que me deixa mais nervoso ainda é querer saber notícias da Manu.Por instinto, ligo na empresa e peço a Laura o número de telefone dela.Preciso ao menos ouvir a sua voz, com aquele sotaque arrastado horroroso, mas que eu acho um charme vindo dela.Ensaio por diversas vezes discar o seu número, até que após ocultar minha identificação, decido deixar a ligação ser completada.A voz do outro lado da linha ecoa pela minha sala. Deixo o telefone no viva voz em cima da mesa, para não cair em tentação de respondê-la.- Alô! Alô! Bah, quem é o filho de uma mãe que liga e não responde?Povinho que não tem o que fazer, não é? Deve ser algum guri que não ajuda a mãe em casa e fica na rua passando trote... vá lavar uma louça para a sua mãe... Ela desliga e eu caio na risada. Só ela mesmo para atender, falar sozinha e ainda passar sermão.Morro de vontade de ligar novamente só para ver o que ela vai dizer, mas me seguro.Ouço duas batidas na porta e em seguida alguém entra. Alícia está linda em um jeans justo e uma blusa de cetim verde.- Boa tarde, garanhão - diz vindo me abraçar. - Senti sua falta esses dias, principalmente do seu mau humor.- Que demora, Alícia. Senta aí e me conta tudo - digo apontando a cadeira em frente a minha mesa.- Não podemos almoçar primeiro? A propósito, eu adorei a sua mãe.Ela é bem direta, me perguntou se eu era uma de suas amiguinhas de cama - fala sorrindo.- Dê um desconto para dona Beth. Eu contei a ela sobre você e sobre tudo, por isso ela está aqui, para me ajudar a me organizar novamente. Agora senta ai e desembucha.- Olha, Bê. sugiro que mantenha a calma, tá? - fala se sentando. - Nesses quinze dias muitas coisas aconteceram...- Se você parar de fazer suspense eu fico calmo. Diz logo de uma vez.- A Manu aceitou o emprego no escritório de advocacia, Castro Soares. Faz uma semana que ela está lá. Porém, tem um moço que a leva e a busca todos os dias no serviço. Pelo que percebi parece que eles têm um caso...Bato na mesa e Alícia dá um pulo. Era só o que me faltava.- Bernardo, você me prometeu ficar calmo.- Como posso ficar calmo? - questiono. - Você acaba de dizer que a mulher que eu amo está de caso com alguém... você sabe ao menos quem é?- Bê, eu sei, mas, por favor, me prometa não fazer nenhuma besteira.- Caralho Alícia, para de frescura e fala logo. Quem é o filho da puta que está dando em cima da Manu?- É o Lúcio...Derrubo tudo o que está sobre a mesa no chão. Vou sentido a porta e Alícia tenta me segurar.- Bernardo pare, não vá fazer besteira - implora, segurando meu braço. - Você acha que ficar transtornado assim vai ajudar em algo?- Eu quebro a cara dele Alícia, juro para você que mato esse oportunista.- Bernardo ele não é tão diferente de você, então pare já com essa birra! - grita.- Não é diferente de mim? - indago entre os dentes. - Me poupe Alícia...-Você pode ter mudado agora Bernardo, o que eu duvido a contar pelo seu comportamento de segundos atrás, mas até pouco tempo, você era oportunista sim! Você sempre usou as pessoas para conseguir o que queria.Esse homem não está fazendo nada do que você já não tenha feito antes.- Cale a boca, Alícia. Uma coisa não tem nada a ver com a outra!- Ah, agora não tem não é? - Finalmente solta meu braço. - Vamos almoçar e depois pensaremos juntos no que você vai fazer...Penso por um minuto e vejo que ela tem razão. Acabei me excedendo, sendo que, o tempo todo ela tentou me ajudar.- Obrigado Alícia e me desculpe. Sei que mereci ouvir tudo o que você falou. Odeio estar apaixonado, odeio sentir ciúme e não poder fazer nada para mudar isso.- Amor é assim mesmo, Bernardo. Dói, machuca... mas só quem suporta passar por tudo isso é que consegue desfrutar dele na sua totalidade.- Você já amou Alícia? - pergunto curioso.- Já sim Bê. Na verdade eu ainda o amo, mas minha condição de acompanhante de luxo tirou toda a esperança que eu tinha de ter umrelacionamento normal. Sabe, montar família, ter filhos e um cachorro...- O homem que não aceitar seu passado e mudar seu futuro é um babaca, Alícia. Você é uma mulher excepcional. Amiga, companheira, linda e inteligente. Se eu não amasse a Manu, com certeza daria a você a vida que merece - confesso.- Será, Bê? Você me conhece há tempos e nunca sequer falou nada do gênero para mim. Sempre que teve oportunidade, jogou na minha cara a minha condição de prostituta. Não precisa se desculpar, pois é isso mesmo oque sou e mesmo que um dia eu me case, esse passado sempre estará comigo - confessa.- Alícia você confia em mim? - falo entusiasmado.- Mas é claro, Bê. - responde com o mesmo entusiasmo que eu.- Vou tirar você e a Becca desta vida. Sei que vocês têm um padrão bom de vida e manterei ele, porém vocês vão trabalhar em outras coisas.- Não brinca com meu emocional, Bernardo. Sou mulher esqueceu?- Não estou brincando, Alícia. Vocês vão trabalhar comigo na BioFort.- Seu pai nunca que aceitaria - fala rindo.- Ele não mandará em mais nada lá - falo contando a ela sobre a revelação que minha mãe me fez em Portugal.- Então quer dizer que você será o novo presidente de lá?- Sim. Agora entende meu nervosismo? Após o almoço estarei indo lá com a minha mãe para enfrentar o imponente Júlio Salles.- Meninos, o almoço está na mesa - minha mãe grita já entrando no escritório. - Não demorem, para não esfriar.- Já estamos indo - respondo.- Você quer que eu vá com você? - Alícia pergunta segurando minha mão.- Acho melhor não, meu pai sabe ferir quando quer, e esse é um assunto para ser resolvido em família.- Bê, obrigada por compartilhar comigo muito mais que apenas fodas...-Alícia, eu quem devo agradecer por você ser minha amiga e ainda estar aqui mesmo eu sendo um tremendo trouxa.Saímos do escritório e nos sentamos à mesa. Marli, como sempre, arrasa no almoço.A comida desce com dificuldade embora a fome e a vontade seja grande. As mulheres sentadas comigo à mesa, são muito especiais para mim.Cada uma com a sua peculiaridade. E eu que achava que nunca precisaria de ninguém, estou aqui rodeado de pessoas as quais estão dispostas a lutar ao meu lado.Engulo algumas garfadas até me dar por satisfeito.- Vamos mãe. - A pego de surpresa assim que percebo que ela acabou de comer.- Não vão nem comer a sobremesa? - Intervém Marli.- Preciso ir agora. Vamos mãe? - pergunto diretamente para ela.- Vamos, sim. Vou só escovar os dentes e pegar a minha bolsa.- Eu fico para a sobremesa - Alícia fala e Marli se levanta para pegar para ela.Vou até meu quarto e coloco o blazer sobre a camisa social. Escovo os dentes e dou uma arrumada no cabelo.Se serei o novo presidente, eu tenho que me comportar como tal.Encontro minha mãe na sala e deixamos o apartamento. Seguimos caminho até o estacionamento em silêncio, mas a minha cabeça já está trabalhando em tudo o que direi ao meu pai.Assim que entro no carro, o CD da Manu começa a tocar e dessa vez parece que a música veio a calhar. Legião Urbana - Quem acredita sempre alcança -, foi a música que me acompanhou até a BioFort.A Mercedes do meu pai está estacionada no local de sempre. Paro o meu carro bem ao lado. Dou uma inspirada profunda e solto o ar todo de uma vez. Minhas mãos estão suando e meu coração parece querer sair pela boca.Minha mãe segura as minhas mãos em um gesto de carinho e conforto.Desço do carro e abro a porta para ela sair. Seguro firme em suas mãos e seguimos em direção a entrada. Ergo a cabeça e entro na empresa como sempre entrei.Não será nada fácil, mas hoje sairei daqui como o presidente Bernardo Salles.
