#Capítulo 25- Janaína
27/04/2018
Eu queria não estar recebendo medicação intravenosa, queria não estar tão molenga à ponto de não conseguir sair dessa cama e agarrar-me a ele em um abraço apertado. Inspirando seu perfume até ficar inteiramenteinebriada.- Porque você está machucado desse jeito? - Questiono, já sabendo a resposta.- Eu briguei com Adônis hoje de manhã - Sua voz era fria como aço. - Ele esfregou a sua gravidez na minha cara.Ah merda! Eu me odeio por fazê-lo sofrer dessa maneira.- Porque você não me disse sobre essa tal viagem à Boston? -As palavras rolam contra minha vontade, mas eu preciso saber. - Eu não estou dizendo que quero que abandone tudo para ficar comigo. Jamais imaginei que faria uma coisa dessas. Trocar sua carreira de anos por uma mulher que você mal conhece. Somos adultos e ambos sabemos que isso só acontece nos livros, mas eu queria que tivesse me contado, antes de eu me envolver tanto com vocês... você! Meus olhos ardem quando as lágrimas beiram à borda.Mordo o lábio tentando controlar o choro.- Contar? Você quer saber a verdade? - Ele diz duramente. - Porque você não age como uma mulher adulta e me pergunta! Não fique fazendo suposições, eu não tenho idade para joguinhos e intrigas. Eu esperei o mesmo de você!-Para, Dimitri!- Parar? Não! Não até você saber tudo! - Ele bradou, sem elevar o tom. - Eu te conheci bem antes de encontrar Paola, eu fiquei dias pensandoem como chegar perto da morena de riso fácil, que sempre sentava no mesmo lugar. Quando percebi que eu jamais teria chance, já que você esperava o filho de outro, eu voltei a me dedicar com afinco aos meus estudos. FoiAdônis quem me levou para uma festa, e lá eu conheci a Paola. Ela era linda, inteligente e impetuosa. Apesar dela nunca ter me confessado, eu sei que ela se aproximou de mim porque eu era a cópia dele! Nós nos dávamos bem, mas não o suficiente. Ela esperava algo de mim que eu não poderia dar a ela. Por mais que me esforçasse, eu não conseguia amá-la. Não do jeito que ela queria, mas, mesmo sabendo de tudo, eu gostava de tê-la por perto.Eu não ousei interrompê-lo apesar de me cortar o coração ouvi-lo falar dela.- Ela sempre soube que meu foco principal era a medicina. Percebi que estávamos nos prendendo em um relacionamento sem futuro. Quando decidi terminar, ela me implorou para que eu não a abandonasse, e contou que Adônis apenas a usara.- Então você sempre soube...- Adônis acredita que eu roubei tudo que era seu por direito: o carinho de nossos pais, Paola e a filha que ele rejeitou. - Havia uma nota de tristeza em sua voz.- Eu o beijei - Confesso, com a voz embargada.- Porque?- Pena! Apenas isso! Estava fragilizada depois de tudo o que aconteceu! Eu espero que a rixa entre vocês termine. Isso não é jeito de viver, com rancor e mágoas guardados dentro de si. Dimitri dá um passo para mais perto de mim e o bipe da máquina se intensifica em um ritmo acelerado.- E esse filho? - Indaga, olhando para minhas mãos sobre o baixo ventre.- É seu! Eu juro pelo que você quiser! É seu. - E aquela era a pura verdade. Apesar de tudo, o ódio que eu sentia por Adônis desaparecera naquela manhã e, quanto à criança que crescia dentro de mim, não me restava dúvidas, era do "Meu Doutor".Ele suspirou, como se um peso saísse de cima de seus ombros.Dimitri sentou-se na beirada da cama e enxugou a lágrima que descia devagar pela minha bochecha. Ele se apoiou sobre a cama, me deixando entre seus braços e me entreguei ao seu beijo, possessivo e urgente. Completamente diferente de Adônis, não havia suavidade, apenas fome.A porta do quarto foi aberta por uma enfermeira e então ele se afastou. Sorri, ainda com os lábios formigando. A senhora de meia idade entrou carregando uma bandeja metálica.- Vim fazer a verificação dos sinais, mas parece que as máquinas estão trabalhando a todo vapor, não? - Ela diz em tom de reprovação, e Dimitri abre espaço, mas fica me olhando à distância com aquele olhar travesso que tanto adoro.******Três dias se passaram desde que fui internada. Eu estava azul de vontade de sair daquele quarto de hospital. A comida era horrível e, para piorar a situação, meus enjoos eram frequentes. Nada parava no meu estômago. Meus garotos me visitaram todos os dias e contrabandearam alguns chocolates a pedido meu. Pena que vomitei tudo logo depois. Joana passava as tardes comigo, me fazendo companhia, mas achei melhor não mencionar nada sobre Adônis ou Dimitri. Nem eu, que estava no centro daquele problema, estava sabendo lidar com isso, imagina ela? Durante as noites Dimitri me fazia companhia e reclamava de Anastácia, que agora ocupava o meu lugar cuidando de sua agenda de pacientes.- Você não tem que se preocupar com nada disso. Lógico que ela não tem seu bom humor, e também não ataca minha gaveta de doces quando não estou por perto.- Ha ha! Forço uma risada irônica e reviro os olhos. - Muito engraçado!No tão esperado dia de minha alta, tomei um banho e me livrei da camisola do hospital. Com um vestidinho folgado e rasteiras, eu não via a hora de sair. Escovei os cabelos molhados e analisei meu reflexo no espelho.Eu estava alguns quilos mais magra, graças aos enjoos frequentes que não me abandonavam. Dimitri apareceu na porta do quarto com um buquê de flores e meu coração acelerou no peito ao ver o sorriso de canto a canto em seu belo rosto.Corri em sua direção e enganchei meus braços em seu pescoço inspirando fundo, querendo gravar seu perfume só para mim. Com uma mão, ele envolve minha cintura e mordisca meu lábio inferior antes de sugá-lo em um beijo. Meu corpo inteiro se acende com sua presença. Ele termina o beijo com custo e me deixa querendo mais.- Elas são lindas. - Pego as flores e as cheiro.- Eu traria chocolates, mas Guilherme me falou que você não pode nem ver doces. - Ele explica enquanto caminhamos juntos.Depois que Dimitri assina os papéis da minha alta e tem uma longa conversa com meu médico, finalmente me sinto livre. Respiro fundo quando passamos pela porta principal e o Audi conversível chama atenção de quem passa na calçada.- Gostou? - Ele pergunta ao meu ouvido.- Você comprou? - Arqueio as sobrancelhas em completa surpresa.- Não. Roubei no caminho para cá! - Retruca de modo debochado e tira do bolso da calça as chaves, desativando o alarme da máquina a nossa frente.- Eu já estava me acostumando com a moto, mas acho que posso me acostumar com esse também, afinal de contas, o vento nos cabelos vai continuar, não é mesmo? - Brinco, com um sorriso no rosto.O carro é tão luxuoso por dentro que me sinto mal arrumada para estar dentro dele. O trajeto é rápido e eu me pego observando tudo como uma turista, apreciando cada detalhe, cada palmeira, o calçadão preto e branco.Quando dou por mim, já estamos chegando ao apartamento de Dimitri. Ele estaciona próximo ao elevador e desce, fazendo a volta para abrir a porta para mim. Eu não consigo evitar um sorriso diante do gesto. Ele segura em minha mão e caminhamos juntos para o elevador.- Não vai demorar - Ele explica, pressionando o botão do elevador. - Eu só preciso pegar a minha maleta, depois eu te levo para casa.Quando as portas metálicas se abriram, um grito em uníssono foi dado.- Surpresa!Olhei ao redor, ainda atônita por ver todos reunidos ali. Joana e Tadeu. Guilherme, Gabriel e Gustavo, Sara, até Samanta estava presente. Fui recepcionada carinhosamente com abraços dos meus filhos. Minhas pernas amoleceram, e Dimitri me apoiou segurando-me pela cintura.- Você organizou tudo? - Indaguei, olhando para o apartamento decorado com balões e flores.- Os garotos me ajudaram também. - Ele confessa.- Pessoal, vou roubar a Jana só um pouquinho. - Ele anuncia em voz alta. - Anastácia, sirva o champanhe, por favor.Dimitri me guia para o quarto e abre a porta para que eu entre.- Hum... que suspense! - Brinco, ainda emocionada com a surpresa.O quarto está tomado por pétalas vermelhas, sobre a cama, inclusive pelo chão. O perfume de rosas paira no ar. É simplesmente lindo! Quando me viro para encará-lo, ele está de joelhos. Ai meu Deus! Sinto o coração bater descompassado no peito. Ele tem nas mãos uma caixa de veludo preto.- Nunca fui homem de acreditar em destino, Jana, mas quando você cruzou a porta do meu consultório, depois tantos anos... Aquilo não poderia ser obra do acaso! Naquele dia, eu jurei para mim mesmo que jamais te perderia de novo. - Ele abre a pequena caixa aveludada exibindo um anel.A pedra azulada cintila, reluzindo sobre o ouro branco. Puxo o ar com força quando percebo que estou há algum tempo prendendo a respiração. - A partir de hoje até a eternidade, eu serei seu, e quero que seja minha. -Dimitri tira o anel e larga a caixinha sobre as pétalas no chão.Não é um sonho! Não é um sonho! Repito para mim mesma, quando ele pega minha mão, que treme sem parar. As lágrimas pinicam meus olhos e mordo o canto do lábio inferior, tentando controlar a emoção que transbordadentro de meu peito.- Eu aceito... - Consigo dizer com um fio fraco de voz trêmula.Dimitri coloca o anel na minha mão direita e a joia se encaixa perfeitamente. Ele beija meus dedos e volta a ficar de pé.- Eu te amo! - Digo baixinho sem coragem de olhá-lo nos olhos.- Eu te amo mais! - Ele diz erguendo meu queixo, colando sua boca, ávida pela minha.Por Deus, isso não poderia ser mais errado, mais complicado ou, melhor dizendo, impossível! E, mesmo sabendo de tudo, eu o queria e amava como nunca. Eu estava perdida! Um som de uma garrafa estourada fez com que interrompêssemos o beijo. Minha respiração estava ofegante assim como a dele.- Quero te mostrar uma coisa. - Ele diz, me guiando pela cintura e me conduz ao seu imenso closet.Todas as minhas roupas e sapatos foram organizados ali, dividindo espaço com suas camisas e outras peças finas e caras.- Você é um doutor muito convencido, sabia? Não teve dúvida de que eu aceitaria? - Ele me puxou de volta contra seu corpo e sorriu.- Se não aceitasse, eu te roubaria para mim! - Ele capturou meus lábios em um novo beijo, com um doce sabor de felicidade.Só eu sabia o quanto queria que aquela sensação se eternizasse, mas algo em minha mente gritava que aquilo não iria durar, e então eu sufoquei a insistente voz da razão até que não pudesse mais ouvi-la. E, quando nosexpomos dessa forma, é que nos tornamos mais vulneráveis.Voltamos para sala e o sorriso em meu rosto não poderia ser mais largo. Joana foi a primeira a gritar quando viu o tamanho da pedra que adornava meu anel.- Jana do céu! Que anel é esse? - Exclamou, bebendo um gole da taça que segurava na mão. Meu olhar percorreu a ampla e luxuosa sala, à procura de Dimitri, que estava conversando na sacada com a mãe, e pareciam estar discutindo. - Come alguma coisa! Estou te estranhando, em outros tempos só teria sobrado a bandeja! Sabe que mulher grávida não faz dieta.Agora você está comendo por dois.- Eu sei, eu sei. - Mas só de olhar para os aperitivos eu começo a sentir repulsa.******Algumas horas depois, Dimitri e eu estamos sozinhos no imenso apartamento. Samanta levou Sara para passar o final de semana na fazenda.Anastácia ganhou alguns dias de folga e eu estava mais do que grata por isso.Éramos apenas nós dois. Naquela noite, eu demorei a dormir, porque meus dedos deslizavam incessantemente pela tatuagem em seu peito. Resolvi levantar com cuidado para não o acordar. Fui até a geladeira e servi um copo de salada de frutas. Depois que comi, escovei os dentes mais uma vez e voltei para cama. Dimitri dormia tranquilamente, usava apenas uma calça folgada e percebi como seriam difíceis os nove meses sem sexo, afinal aquela era uma das principais recomendações para evitar quaisquer problemas durante a gestação considerada de risco.Adormeci, pensando em como eu resolveria aquele triângulo impossível. Estiquei meus braços e pernas, me alongando preguiçosamente e, quando percebi que já era de manhã. Dimitri não estava mais ali.******- Como foi a primeira noite de "noivinha", Janaína? - Adônis questionou com a voz debochada. Ele estava parado à porta, usando uma regata branca e uma bermuda. Ele respirava ofegante, seus músculos brilhavam com o suor. Adônis caminhou até a cama e pegou meu pulso direito, lambendo o dedo onde estava o anel que Dimitri me dera. Os dentes roçaram contra minha pele e removeram joia. - Não quero que use isso. Não enquanto estiver comigo.
