#CAPÍTULO 15
22/05/2018
O caminho de poucos metros foi feito em silêncio. Manu colocou os pés em cima do banco e abraçou as pernas. É impressionante como ela parece ser uma adolescente mesmo tendo a idade que tem.- Vamos descer? - falo quebrando o silêncio.- Acho que é melhor a gente ficar aqui - responde sem me olhar.- Aqui é perigoso e além do mais, vai que alguém da rua vê a gente conversando no carro. Sabe como é vizinho não é? Podem pensar besteira e levar isso até os seus pais.- Qual a tua ligação com o Bernardo? - indaga, agora olhando para mim.- Manu, vamos entrar que eu te conto tudo o que você quiser saber.- Vicente, que tu não tente nenhuma gracinha, senão...Dou um selinho rápido fazendo com que a matraquinha pare de falar.Desço do carro e ela acompanha meu movimento.Espero-a no portão e pego em sua mão para entrarmos.- Isso é tão errado... - sussurra.- Não tem nada errado aqui Manu. Vamos só conversar. E você já entrou várias vezes na minha casa. Inclusive hoje...- Como sabe que vim aqui? - pergunta assustada.- Sério mesmo essa pergunta?- Tu acha que tô brincando?- Achei que fosse óbvio Manu. Primeiro que você me perguntou qual a minha relação com o Bernardo, e sei que na minha casa tem uma nota fiscal em nome dele...- Do meu anel - ela fala me interrompendo.- Sim do seu anel - continuo. - E também porque você deixou a sua cuia de chimarrão em cima da minha mesa.- Como sabe que a cuia é minha?- Sei porque tem seu nome nela.Ela gargalha escandalosamente. Não sei como acha graça de coisas tão sem graça.Sentamos no sofá e ela me lança um olhar cheio de ternura, como eu nunca recebi de mulher alguma.- Tô esperando tu me falar de onde conhece o traste do Bernardo.- Por que você o odeia tanto? - falo tentando não demonstrar tanto interesse.- Simplesmente porque ele me fez parar de estudar algo que eu realmente amava. Sabe quantas vezes eu escrevi uma carta para ele contando a minha história e pedindo pra me fixar num horário só? Dezenas, Vicente.Fui por várias vezes no escritório dele e ele sequer me recebeu. Quando o Lúcio foi interceder por mim, a resposta dele foi que quem não estivesse satisfeito que pedisse a conta - fala direto, quase sem pausas. Os olhos já começam a lacrimejar.- Manu, não precisa chorar...- É que eu tenho muita raiva dele Vicente. Tu não sabe o quanto foi duro para o meu pai, quando disse que teria que trancar a faculdade para poder trabalhar. O quanto foi difícil para mim ter que ouvir ele chorando baixinho, se culpando por estar preso numa cadeira de rodas e não poder trabalhar para que a filha pudesse só estudar. Dói tanto...Instintivamente a abraço.- Estou me sentindo uma idiota chorando de raiva - sibila ainda abraçada a mim.- Sabe por que você chora de raiva? - pergunto e ela levanta os olhos para mim. - Porque Deus te deu um coração tão bom, que não aguenta um sentimento tão ruim dentro dele.- Agora me diz o que tu tem a ver com ele, por favor? Confesso que fiquei preocupada quando li o nome dele na nota do anel que tu me deu.Eu juro que vim disposto a contar a ela que sou o Bernardo e pedir perdão por tudo o que fiz, mas vendo a forma que ela fala de mim... sou um covarde, no entanto não posso contar a ela isso, pelo menos não agora. Quero que ela volte a confiar no Bernardo antes de contar a ela a verdade. O primeiro passo, eu já dei, fixando os horários dos funcionários.- Eu pedi a ele um empréstimo - minto.- E ele deu assim, sem mais e nem menos? - fala desconfiada.- Vindo do Bernardo? - Entro na dança. - Vou ter que viajar por uma semana para a filial de Gravataí. Como sou novo, tenho que fazer um treinamento lá.- Mas, sério isso? Tu sabe que não precisava de nada disso. Se me desse um anel de bala eu amaria da mesma forma.- Eu sei Manuzinha, mas queria dar algo especial para você.Ela olha pra mim com aquele olhar travesso e me rouba um selinho.- Agora me tira uma dúvida? - fala rindo. - Por que diabos tu usa lentes de contato castanho? Tipo, se eu tivesse que usar lentes de grau, ou pegaria sem cor ou pegaria uma cor mais clara. Tu pega justo castanho?- Até nisso você mexeu? - pergunto rindo.- Tá, eu confesso que fui até seu banheiro. Agora me responde senão morro de curiosidade.- Só vou responder por que não quero que você morra por causa disso. Eu gosto de cor natural. Já sou lindo, se tiver olho claro os demais homens nem teriam chances.- Modesto! - fala fingindo que tossiu as palavras.- Vai falar que não tenho razão?- Tu é lindo, mas nem é lá aquelas coisas. Se tivesse uma lente azul ai sim, ficaria melhorzinho.- Ah... é assim? - falo já a pegando de surpresa e jogando contra os ombros.- Maluco, o que tu vai fazer? - diz gargalhando.- Te por na minha cama e fazer você rever seus conceitos.Manu enrijece o corpo e para de rir na hora. Minhas palavras não foram bem interpretadas.Coloco-a no chão, pois não tem mais o clima para continuar a brincadeira.- Tu falou que não tentaria nada.- E não estou.-Tu acabou de falar que iria me por em sua cama.- E ia. Para poder te fazer cócegas.- Ah...- Desculpa maluquinha. Eu deveria ter escolhido melhor as palavras.- Guri, eu quem peço desculpas. Lembra aquele dia que eu disse a você que havia feito sexo uma vez?- Me lembro sim. Você falou que foi bom.- Eu menti. - Cora ao falar. - Quer dizer, eu tentei fazer sexo e realmente foi uma vez só... mas, foi péssimo.- Ele te machucou? - indago preocupado.- Nós... a gente, só tentou na verdade fazer sexo anal. Eu queria me guardar até o casamento e o Marcelo insistia, insistia... por medo de perdê-lo, acabei tentando dar a ele algum prazer, mas falhei... acho que foi por isso que ele me largou plantada naquele altar...Respiro com dificuldade. Aquele idiota machucou a Manuzinha. Por isso ela é tão avessa a isso. Ela não teve um homem decente que a tratou com carinho e mostrou que é possível sentir prazer.- Manu, não se culpe. Ele quem não merecia que você o esperasse.- Vicente, vai chegar uma hora que tu vai enjoar de mim. Eu vi como você gosta da coisa aquela vez que entrei aqui... - Fecha os olhos ao falar.- Mas dessa vez eu não vou deixar que me abandonem.Fala e vira me beijando. Um beijo quente e ávido. Sinto suas mãos trêmulas percorrendo meu pescoço até chegar aos cabelos da nuca. Não posso permitir que ela se entregue por medo de me perder. Claro que quero muitofoder a Manu e fazê-la implorar para gozar gritando meu nome. Mas não assim.Desfaço-me do beijo e ela olha para mim assustada.- Vicente eu estou pronta.- Manu, eu quero isso tanto quanto você, mas não assim.- Tu ta me rejeitando? - diz amargurada.- Não Manu. Estou te amando. Amando conhecer essas suas fases malucas. Esse seu jeito doce e birrento, menina e mulher. Claro que por minha vontade de homem, nesse momento você já estaria nua na minha cama, mas por saber como você é especial, me sentiria mal se fizéssemos isso agora.- Eu entendo...- Você pode não entender agora, mas lá na frente vai entender. Porém, nada nos impede de deitar naquela cama e ficar abraçadinhos.Ela pula como criança e já se joga embaixo das cobertas.- Nossa, meus pais vão me matar!- Juro que te devolvo antes deles acordarem - falo me juntando a ela na cama.Manu deita a cabeça sobre meu peito. Eu nunca me senti tão bem estando apenas abraçado a uma mulher. Minha realização era somente com meu pau bem fundo nelas.- Vi, obrigada pelo anel e por tudo.- Você merece Manuzinha.Faço carinho em seus cabelos por um bom tempo, até que ouço a sua respiração pesar e ela finalmente se render ao sono.- Pena que eu não a mereço.
