#CAPÍTULO 13 -Emanuelle
19/05/2018
Eu nem acredito em tudo o que está acontecendo. Eu, Emanuelle Fernandes estou namorando uma pessoa que conheço há uma semana!"Viver um dia de cada vez, fazer o que der na telha e ser feliz sem se importar como", esse é o lema que carrego comigo desde que o Marcelo me largou no altar.Mais uma vez o filme passa pela minha cabeça.Eu era uma caloura do curso de Direito. Meu maior sonho era me tornar uma advogada.Quando passei no vestibular, meu pai fez um churrasco para a rua toda.Bons tempos aqueles em que seu Josias fazia seus deliciosos espetinhos de contra filé com pimentão.Meu primeiro dia na universidade foi mágico. Pintaram meu rosto, me fizeram pedir dinheiro no semáforo... até participei de uma festa, onde bebi até não me recordar de como vim parar em casa."- Foi um guri moreno. - Papai dizia." Moço moreno, que mais tarde descobri que se chamava Marcelo Torres. Começamos a nos encontrar na faculdade todos os dias. Eu, umacaloura e ele, um veterano do segundo ano.Marcelo era amável, sensível, caseiro, um verdadeiro cavalheiro.Mamãe e papai estavam encantados com a forma que ele me tratava e cuidava de mim.Seis meses de namoro e ele me pediu em noivado. Era o sonho da minha vida. Comecei a fazer turnos extras na BioFort para guardar o dinheiro em nossa conta conjunta. O casamento estava marcado para o fim do ano seguinte.Trabalhava feito louca para ter o melhor casamento do mundo. Marcelo trabalhava e guardava o dinheiro - assim dizia ele -, para comprar os móveis da nossa casa.E assim foi até a fatídica data. Usei um tanto do dinheiro para a festa e ainda sobrou uma boa quantia para nossa viagem de lua de mel e para comprar o restante dos móveis.Estava tudo lindo. A igreja, meu vestido, meu pai vestido com terno bem cortado e minha mãe com vestido de gala... as alianças em ouro...Eu fui ao meu casamento, mas o noivo não!Marcelo simplesmente sumiu do mapa, levando todo o restante do dinheiro que estava no banco e de quebra, todos os meus sonhos.Esperei por meia hora até me dar conta que fui largada no altar.Não consegui chorar, não consegui gritar... eu só pensava no por quê.Por que o homem dos meus sonhos disse não? Por que ele fez isso comigo?Nunca obtive a resposta.O ano iniciou-se e as aulas retornaram. Eu já no terceiro ano do curso que mudaria a minha vida. Marcelo nem deu as caras na faculdade.No começo foi muito duro, ver as pessoas apontando para mim e dizendo que eu era a noiva abandonada. Uns olhavam com pena, já outros, com maldade. E eu aguentei.No meio do quarto ano, meu querido paizinho teve um AVC ficando impossibilitado de trabalhar. Eu com 23 anos, seria a renda principal da minha casa.O semestre mal havia começado e no serviço recebo a notícia de que teríamos que trabalhar em turnos diurnos e noturnos. Bati o pé, implorei para me deixarem somente de dia, mas foi em vão. Faltando 3 meses para terminar o semestre, tive que trancar a faculdade.Minha vida estava uma porcaria, até Vicente entrar nela. Foi tudo tão rápido e tão natural que quando menos percebi, já estava envolvida.Vicente é tão simples e tão verdadeiro, posso perceber, embora ele nunca fale nada de sua vida pessoal, que ele também carrega algumas cicatrizes.Decidi não perguntar nada de seu passado, o que importa para mim é apenas o presente e futuro. Assim também não preciso dizer nada sobre o meu trágico acontecimento.No jantar de hoje pude ver o quanto Vicente é diferente do Marcelo.Ele é espontâneo, já o Marcelo, parecia dizer as coisas apenas para agradar, mesmo que a resposta dada não fosse verdadeira.Coloco o CD para tocar - dei uma cópia hoje para o Vicente -, e deixo que o Sampa Crew conte a história da minha vida. Música após música eu vejo que foram escritas para mim.- Filha, eu posso entrar? - chama minha mãe do outro lado da porta.- Pode! - falo sentando na cama.- Te senti um pouco quieta e isso não é normal da minha menina. Está acontecendo algo? Estas tuas músicas te entregam guria.- Bah - falo abaixando o som. - Tá tudo normal, por que não estariam?- Manu, eu te conheço como a palma da minha mão, esqueceste que foi eu quem te pari?- Tá certo - digo me rendendo e deitando a cabeça em seu colo. -Estou com medo do meu relacionamento com o Vicente.- Ele me parece ser um bom rapaz.- Marcelo também parecia - resmungo.- Vicente não me parece em nada com o Marcelo.- Mãe, será que não fui rápido demais?- Manu, tu já é uma rapariga criada. Tem 25 anos, já não é mais uma guriazinha. Tu se fechou demais por um ano. Como diz seu ditado, permita-se.- Mãe, tu acha que devo ir lá conversar com o Vicente e contar a ele sobre o Marcelo e sobre tudo? - pergunto.- Se tu achas que está preparada, creio que é o certo a se fazer.Começar um relacionamento limpo e sem mentiras ou passados escondidos.Minha mãe sempre tem a coisa certa a ser dita. Sento-me e dou um beijo em sua testa.Corro na cozinha e pego a cuia e a erva para o chimarrão. Nada melhor que conversar tomando algo quentinho.Visto um casaquinho, pois lá fora o vento começa a balançar as folhas das árvores.Não entendo como Vicente só ande de carro sendo que moramos na mesma rua. Não dão nem 500 metros.Nem 5 minutos já estou parada em frente a sua casa. O tomate atômico não está lá.Estranho, pois ele dizia que estava cansado. Nem o número do telefone dele eu tenho.Levo a mão ao portão e vejo que está destrancado... "Eu não devia entrar... Quer dizer, agora sou sua namorada... Não vejo mal algum em entrar e ver se está tudo bem..."Pego a chave da casa que ele guarda embaixo do capacho e entro.Tenho 100% de certeza que Vicente nem parou aqui. Meu coração começa a bater mais rápido.Decido dar uma espiada na casa, afinal namorados não escondem nada de ninguém.A geladeira está totalmente vazia, assim como os armários. Vicente não me parece tão pobre a ponto de nem comprar comida.As panelas ainda se encontram na caixa e sobre a pia somente os utensílios que usei da primeira vez que vim aqui e passei um café.Paro um pouco tentando assimilar tudo, mas sou péssima para montar quebra cabeças.Corro pela casa toda e vejo que nem parece que Vicente mora aqui. No guarda roupas encontro as peças que ele usou enquanto fazia... às coisas com aquela vadia. Peças de marca que visivelmente não eram réplicas.Vicente não me parece tão interessado em grife, já que sempre aparece em casa, com aquelas roupas vindas de brechó."Manu você está fantasiando, às vezes ele comprou mesmo essas roupas em um brechó."Corro até o banheiro e vejo uma caixa de lentes de contato castanhas."Por que alguém usaria lentes de grau com a cor castanha? Se fosse eu pegaria um azul ou verde..."Sento na cama e vejo que não chegarei a lugar algum assim. Não estou entendendo nadinha.Sobre o criado mudo uma nota fiscal me chama a atenção. Parece ser daquela joalheria cara que tem na área nobre.- Deve ser a notinha do meu anel. - Penso alto.Sei que é feio ver o quanto custou, mas aposto que o coitadinho deve ter feito em várias prestações.Desdobro a nota onde leio:
Joalheria Jóia Real
Anel em prata de lei Infinito....................................... R$ 3.500,00
Pagamento à vista.
Produto exclusivo.
Garantia de 04 anos a contar da data de compra.
Nome do cliente: Bernardo Salles
Nem consegui terminar de ler a nota. Algo muito estranho está acontecendo e eu preciso saber o que é.Vicente não pode ter pedido ao Bernardo para comprar o anel...Minha cabeça dói e corro para casa sem me lembrar de trancar a casa ou levar a cuia de volta.Meus pais já estão dormindo e é melhor assim. Tenho muita coisa a se pensar nesse momento e a principal delas é saber qual a ligação do Vicente com o Bernardo.
