#CAPÍTULO 11

16/05/2018

O resto da noite foi tranquila. O trabalho nem foi tão cansativo. Tive tempo o suficiente só para pensar na maluquinha. Quando dei-me por mim, já estava na hora de ir para casa.
Manu já está encostada no vermelho atômico. Sua cara de sono é ainda mais linda do que sua cara de brava.
- Bah guri, que demora. Tudo o que mais quero nesse momento é uma cama.
- A minha ou a sua?
Ela dá um soco em meu braço e amarra a cara.
- Claro que é a minha né? Não vá pensando que eu sou uma dessas gurias que mal começam a namorar e já vão se arreganhando para o namorado, não, viu. Eu sou uma guria de família. Ainda temos que falar com meus pais, sairmos para nos conhecer melh...
Calo-a com um beijo. Ela é uma matraca ambulante.
- Farei tudo isso da sua lista, mas não agora. Também estou morto.
- Então bora para casa.
O caminho foi feito ao som do CD que a Manu gravou. Só músicas bregas.-
Manu, chegamos - aviso dando uma leve balançada em seu braço.
- Mais já? - Pergunta sonolenta.
- Quer ficar no carro, pode ficar à vontade.
Ela coça os olhos e boceja, para logo em seguida fechar a cara.
- Tu é tão anti-romântico.
- Eu não falei nada demais. Até te ofereci meu carro para você dormir.- Vi, olha, esteja aqui na hora do jantar - fala saindo do carro. - Você tem que pedir a permissão dos meus pais para me namorar.
- Isso é mesmo necessário? Você já tem 25 anos.
- Nos vemos no jantar Vicente.
- Tudo bem, Manu. Você não vai me dar nenhum beijo?
- Aqui em frente a minha casa não né! Vai que meu pai vê.
Às vezes parece que estou gostando de uma adolescente de quinze anos que tem que pedir permissão dos pais para tudo. Como estou cansado, decido nem discutir.
- Tudo bem, Manu, as seis estarei aqui.
Ela se despede com um aceno.
Termino de chegar ao meu lar provisório. Minha casa amarela.
Tiro as lentes e tomo um banho lento para que eu use esse momento para repensar o que estou fazendo da minha vida. Eu estou namorando. Com uma maluquinha.
Estou pregado de sono, preciso descansar que mais tarde tenho que pedir a Manu em namoro.
O celular berra sem parar e nesse momento eu tenho vontade de matar o filho da puta que esteja me ligando.
- Alô. - Atendo sem reparar o nome que aparece na tela.
- Bom dia filho.
- Oi pai, caso você não saiba, eu trabalhei a noite toda e estava tentando descansar um pouco - falo com tom de deboche. - Puta merda custava ao menos esperar até à hora do almoço?
- Bernardo não fale assim comigo, guarde esses palavrões para as vadias que você come. Só te liguei para avisar que seu teatro já pode acabar não precisa mais ficar indo trabalhar no galpão. Sua estratégia de fixar os
funcionários foi á solução.
O quê? Sento na cama ainda digerindo a notícia.
- É serio isso? Já posso voltar á vice-presidência?
- Amanhã mesmo se você quiser, senão tire o resto da semana de folga e volte na segunda.
- Farei isso. Até na segunda então.
Desligo e me levanto. Que dormir que nada, agora posso voltar a ser o antigo Bernardo. Voltar para meu apartamento, comer minhas comidas, usar as minhas roupas...
Pego o carro vermelho e saio em direção ao meu lar doce lar. Já sinto o cheiro do café recém passado pela Marli.
Estaciono o trambolho ao lado do meu outro carro. Quantas saudades senti do meu esportivo.
Marli parecia que estava adivinhando que eu chegaria.
- Bom dia Marli.
- Bom dia Bernardo. Acabei de passar um café e o bolo de aipim está quase saindo do forno.
- Você não pode imaginar o quanto senti falta desses cheiros.
- Posso imaginar. Você está tão barbudo...
- A partir de agora não ficarei mais barbudo Marli, voltarei a ser o mesmo Bernardo.
- Não vai mais ficar trabalhando na fábrica?
- Graças a Deus não. Aquilo é um inferno. Olha as minhas mãos - falo mostrando as palmas das mãos.
- Estou feliz por você Bernardo, espero que você tenha aprendido algo esses dias em que ficou lá.
- Aprendi sim Marli, que ser pobre e peão não é fácil. Senti tanta falta do meu apartamento, das minhas roupas, dos meus olhos azuis... até da sua comida.- Bernardo, Bernardo... seu Júlio esperava mais de você com esse disfarce.
- Meu pai é um folgado Marli.
- Você tem a quem puxar...
- Marli me sirva o café que vou trocar de roupas e já venho.
Vou até meu quarto e não resisto à vontade de tomar banho na minha banheira. Enquanto ela vai enchendo vou fazendo a barba na pia.
Nunca mais deixo esses pêlos tomar conta do meu rosto.
Entro na água que está na temperatura que eu gosto. Jogo aromatizador de baunilha e espuma de banho. Era tudo o que eu estava precisando.
Sou retirado dos meus devaneios pela Marli batendo na porta. Nem me dei conta que acabei cochilando na água. É o cansaço de ter trabalhado a noite toda.
Saio da água, que já está gelada, e vou me trocar. Nada como vestir uma pólo da TomyHilfiger e uma bermuda da mesma marca. Calço meus chinelos de couro e estou pronto.
- Bernardo a Dorenice vem hoje dar uma arrumada na casa e nas suas roupas. Eu já deixei tudo pronto para seu jantar, pois hoje não poderei ficar para prepará-lo. Tenho um compromisso.
- Tudo bem Marli.
- Ah, mais uma coisa, ligaram no seu celular, mas eu não atendi. Me parece que era uma menina chamada Manu.
Porra a Manu! Merda, fiquei tão fissurado em ter minha vida de volta que nem associei a Manu a ela.
- Tudo bem Marli. Fez bem em não atender.
O que eu faço agora? Manu me odeia. Caralho, ainda tem o jantar na casa dela hoje... merda, merda, merda. O que eu faço?
- Marli, só mais uma coisa antes de você ir. O que uma pessoa deve levar na casa da pessoa que ela vai pedir em namoro?
- Existe isso ainda de pedir a mão em namoro aos pais?
Até a Marli que é mais velha estranhou, imagina quando souber que a mulher em questão tem 25 anos.
- Existe sim. - Sorrio. - E meu amigo não sabe o que levar.
- Amigo?
- Sim, por quê?
- Por um minuto achei que você tivesse desencalhado.
- Marli, responda a minha pergunta, por favor.
- Na minha época o moço levava uma sobremesa e um anel para formalizar o pedido.
- Obrigado. E, por favor, não comente sobre isso com ninguém, meu amigo não quer ser exposto.
- Sobre o que mesmo estávamos falando? - Pergunta com uma cara engraçada.
- Isso ai garota. - Pisco em sinal de cumplicidade.
Um anel. Preciso escolher um... como escolher um anel?
Troco os chinelos pelo tênis e vou até a joalheria que tem na esquina de casa.
- Bom dia senhor Bernardo, o senhor chegou em boa hora.
Recebemos agora a pouco uma coleção especial de abotoadoras e as novas e exclusivas Mont Blanc tinteiro.
- Bom dia Carlos. Hoje vim à procura de um anel para dar a uma moça.
- Noivado?
- Não, apenas compromisso.
- Temos uma infinidade de modelos para essa ocasião tão especial.
Ouro branco, ouro amarelo, rosé... pedras variadas. Embora ache que nada supere um diamante.
- Pois vamos aos solitários então.
Carlos me leva a sessão reservada da joalheria e vai buscar a maleta com as jóias.
Eu gastando uma pequena fortuna dando um anel legítimo a uma mulher que não sabe nem reconhecer uma pedra preciosa.
- Chegou esse hoje. É um anel ouro rosé 18 quilates e 21,5 pontos de diamantes Spot.
- É lindo Carlos, com certeza uma peça linda, mas queria algo mais simples e com apenas uma pedra.
- Temos esse solitário em ouro branco e 30 pontos de diamante.
Acredito que seja o anel perfeito para a ocasião.
- Ainda queria algo diferente, uma coisa mais única se me entende.
- Tenho algumas coisas na sessão de raridades...
- Pois é essa que eu quero.
Sei que terei que fazer um seguro dessa peça, mas quero algo que valha a pena ter no dedo da Manu.
Carlos vem acompanhado de dois seguranças segurando uma caixinha pequena.
- Me desculpe os seguranças Bernardo, mas isso se faz necessário.
- Sem problemas Carlos, tenho certeza que sim.
- O que tenho nessa caixinha é o que de mais precioso temos. É uma jóia única e super valorizada.
Carlos abre a caixinha e tira de lá a coisa mais linda que já vi na minha vida. Um anel de ouro branco com um solitário único e bem sutil de diamante vermelho lapidado em formato de coração.
- Como vê Bernardo, esse é um solitário de diamante vermelho, mais conhecido como Moussaieff Red. Tem 5.11 quilates e é a jóia mais preciosa que temos.
- Carlos essa jóia é a perfeição na Terra.
- Bernardo você como admirador de pedras preciosas sabe que essa gema é um tanto mais cara que as demais...
- Qual o valor dessa belezura?
- Hoje ela está avaliada em mais de 20 milhões de dólares. É o maior diamante vermelho do mundo.
Solto um assovio. É muita grana.
- É Carlos, essa gema ainda não está para o meu bolso.
Ele esboça um sorriso e coloca a peça de volta na caixinha. Sai seguido dos seguranças até o cofre para guardá-la.
Manu merece algo lindo, mas com esse valor compro boas ações e faço valiosos investimentos.
Carlos volta por fim, com uma outra caixinha em mãos.
- Bernardo essa jóia é o que você procura - fala tirando da caixa um anel prata com um símbolo de infinito. - É um anel em prata de lei. A primeira vista ele parece simples, mas é uma peça única e com um grande valor. Aposto que a garota vai adorar.
A primeira vista não gostei tanto do anel, mas imaginando ele na mão da Manu, vi que Carlos tinha razão.
- Vou levar esse então.
- Está certo Bernardo. Vou pedir as meninas para que embrulhem.
Sigo Carlos até o caixa onde passo meu cartão para pagar o presente da Manu. Espero que ela goste.
- Prontinho Bernardo - fala uma das atendentes. - Aqui está seu produto.
Pego a sacola de laço azul e volto rápido para casa.
Ainda tenho tempo de tirar uma soneca até dar a hora do jantar.
Acordo às cinco da tarde. A música nova do celular nem me incomodou. Marli deixou uma torta holandesa linda na geladeira. Não sei o
que faria sem essa mulher.
Jogo uma água no corpo e coloco as roupas do Vicente. Meu Deus o que farei?
As lentes castanhas terminam de compor o personagem.
Deixo o apartamento com o carro vermelho. Até quando terei que fingir ser quem não sou?
Chego pontualmente às seis horas. Josias já está me aguardando em sua cadeira de rodas do lado de fora.
- Boa noite jovem.
- Boa noite senhor Josias. Como está?
- Estou bem meu rapaz. E aí, ansioso?
- Manu já te contou não é?
- Vicente, saiba que eu estimo muito tu com a minha garotinha. Só te peço que tenha paciência e que não parta o coração dela como o Marcelo fez.
Por mais que ela seja maluquinha, ela merece alguém que a ame de verdade.
- Eu gosto muito dela Josias.
- Eu sei guri.Vamos entrar que a Lourdes já está pondo a mesa.
- Eu trouxe a sobremesa.
- Isso é muito gentil da sua parte.
Assim que entro na casa vejo a minha maluquinha. Está parecendo uma menininha de vestido branco de algodão com pequenas florzinhas azuis estampada.
- Guri, chegou bem na hora - fala vindo me abraçar.
O seu cheiro de perfume adocicado é uma das coisas que me encantam.
- Vi que sentiu saudades.
- Tá, vou confessar que até sonhei contigo.
- E foi bom o sonho?
- Foi lindo, espero um dia realizá-lo.
- Nossa, posso saber com o que sonhou?
- Na hora exata te conto.
- Crianças - chama Lourdes. - O jantar já vai ser servido.
Manu pega na minha mão e me leva até a mesa.
- Mãe, pai, o Vicente quer falar com vocês - ela fala sem rodeios e sem me avisar.
Josias me olha com cumplicidade, o que me passa tranquilidade.
- Bem, eu não preparei nenhum discurso ou palavras bonitas - começo. - Mas na data de hoje, gostaria de pedir a mão da Manu em namoro. Lourdes, Josias, vocês me deixam namorar a filha de vocês?
Lourdes já está chorando. Josias apenas sorri.
- Claro que aprovamos esse namoro Vicente. Que você possa fazer a nossa menina muito feliz - Lourdes diz chorosa.
- Mãe!!! Essa era a hora do papai perguntar as intenções dele. A senhora já aceita assim de bandeja? - Manu fala e todos caem na risada.
- Manu. - Me viro de frente para ela. - Quero te dar algo em sinal do meu compromisso.
Tiro a caixinha azul do bolso e a abro. Manu rapidamente estende a mão para que eu possa colocar em seu dedo. Por sorte Carlos deu o tamanho certo. O anel ficou lindo.
- Bah guri, esse é o anel mais lindo que já vi em toda a minha vida - fala pulando e mostrando o dedo para os pais.
- Só não é mais lindo do que você.
Sem me importar com seus pais, a pego pela cintura e lhe dou um beijo.
Manu retribui e sinto que se estivéssemos num quarto, esse beijo terminaria na cama.

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