#BRUTO - CAPÍTULO 5 - Amigos Perto, Inimigos mais perto.
05/03/2018
- Carolina Oliveira
Após sair da mesa, sinto os olhares dos dois queimando sobre mim, qual o problema com esses homens? Um é um cavalão saído direto da era pré- histórica. E o tal de Jairo é um sem vida. Se algo me irrita mais que teimosia, é falta de atitude. E, nesse aspecto, o veterinário errou feio, deixou o peão mandar nele, apesar de seu porte, ele não intimida ninguém, nem as galinhas soltas que corriam por ali.Meu pai sempre me ensinou que há dois tipos de pessoa no mundo, as que mandam e as que obedecem. Eu faria aquele peão me obedecer! Encho a boca de água mais uma vez e faço um gargarejo com o Listerine que eu carrego na bolsa. Ele vai me pagar por me fazer comer tripa e língua. Maldito brucutu!Só de lembrar da textura daquela carne molenga dançando em minha boca, a ânsia de vômito volta. Cuspo e escovo os dentes mais uma vez. Lógico que aquele almoço terá volta!A voz dele ecoa em minha mente."Quando soube que a doutora ficaria para o almoço, resolvi mudar o cardápio..."Filho da puta! Você me paga!Retoco o batom e passo a loção hidratante que eu havia ganhado antecipadamente de Matt nos braços e mãos, e um delicioso cheirinho de morango invade o ambiente, aquele homem sabia exatamente o meu gosto.Coragem, Carolina! Você já enfrentou promotores e advogados mais impetuosos e persuasivos do que essepeãozinho de araque.Espero que Matt não demore a ver minha mensagem. Torço silenciosamente e volto para a varanda onde havíamos almoçado há pouco mais de uma hora.- Estou pronta - anuncio parada na soleira da porta.Eles se calam quando me veem, e Jairo dá uma risadinha, como se soubesse de algo.- Alguma piada que eu deva saber? - Pouso as mãos na cintura.- Não, doutora. Nenhuma - Bruto responde com certo sarcasmo. Claro que esses cretinos estavam rindo de mim, eu só não sabia o motivo.Jairo fica de pé e se aproxima para me dar um beijo no rosto, colocando a mão em minha cintura, mas eu recuo na hora. De onde surgiu essa intimidade?Tiro sua mão de meu corpo e apenas o cumprimento.Não sei com que tipo de mulheres esses homens estão acostumados nesse final de mundo.- Obrigada por me emprestar o celular. Agora, se me der licença, eu tenho alguns compromissos a cumprir - digo secamente. - E, pelo que Henrique falou, o senhor também.Olho para o peão e o intimo.- Vamos - digo com firmeza.Henrique ri e bate continência, ficando de pé, os músculos de seu peito brilhando pelo calor infernal que faz.Mas é um idiota!Reviro os olhos e saio na frente, esperando-o na porta de entrada do chalé que parece cair aos pedaços.Segundos depois, eles passam por mim, e Jairo vai até uma caminhonete Range Rover que parece ter saído de fábrica recentemente. Lógico que ele nem ousa me olhar depois que eu o coloquei em seu lugar.- Pronta para passear na floresta? - Ele sorri de maneira convidativa. - Espero que não tenha medo de cobra.Fico na dúvida se ele realmente está falando sobre cobras em geral, e o duplo sentindo faz meu sangue ferver de raiva.Peão atrevido!Ele me olha de cima a baixo, seu olhar passa preguiçosamente por meu decote, quadril e, finalmente,para nos meus pés.- Quer parar de me olhar assim?- Eu só ia dar um conselho doutora. - Ele pega o chapéu e uma camisa pendurados em um suporte ao lado da porta. Ele abotoa o tecido xadrez e seus bíceps marcam a roupa.- O que é? - indago com rispidez.- Esses tamancos aí que você está usando.Homens... Não são tamancos, peão burro, são sandálias de salto agulha, modelo gladiador para ser mais exata, mas é claro que o brucutu não entenderia, então nem gasto minha saliva tentando explicar.- E? O que tem elas?Ele dá de ombros e faz pouco caso.- Acho melhor você colocar uma bota ou algo que não pareça ter um graveto fino grudado na sola. De preferência, sem salto.- Entenda uma coisa, cowboy. - Estufo o peito e me empertigo para tentar ficar um pouco mais alta.Cutuco seu peito duro a cada palavra que digo. - Eu.Nunca. Desço. Do. Salto.Um sorriso sacana formou-se no canto de seus lábios. Ah... A raiva que esse bastardo me provoca está querendo me fazer subir pelas paredes.- Então, dane-se. - Resmunga mal-humorado, ajeitando o chapéu na cabeça, caminha até uma caminhonete velha que deve ter no mínimo trinta anos. Em alguns pontos da lataria que não estavam cobertos por lama, faltava tinta.Eu não acreditei que aquela fubica velha pudesse realmente andar nem ao menos um metro ou dois.- Nós vamos nisso? - Ele abre a porta e senta no lado do motorista.- Tem certeza que isso anda?- Isso? - Henrique tira as chaves do bolso e enfia na ignição. - A Carolzinha é uma beleza, só eu monto nessa belezinha aqui.Ele estava gozando com a minha cara.Puxo o trinco da porta, mas a joça parece estar emperrada.- Viu? Esse docinho aqui só funciona nas minhas mãos.O filho da mãe se inclina e abre a porta pelo lado de dentro.- Você está brincando que o nome dessa carroça velha é "Carolzinha". - Rosno.Com a maior cara de pau, ele mente.- Nunca falei tão sério em toda minha vida.Ele dá partida e, quando vai engatar o câmbio na primeira marcha, Henrique agarra minha coxa. Meu corpo incendeia de ódio e faço o que jamais havia feito com um homem: soco-o com força no braço, meu punho lateja quando se choca com o músculo rígido do braço que segura minha coxa.- Tire essas suas patas de mim! - Berro, puxando a barra do vestido para baixo e deixo as pernas bem longe de seu alcance.- Calma doutora, só estava tirando uma aranha. Mentiroso desgraçado! Jesus, dê-me forças para não matar esse peãotarado, pois se eu estiver presa, não poderei aproveitar acobertura em Paris.- É mais forte do que eu, não posso com uma donzela eu perigo. E aquela aranha parecia raivosa. Mil, novecentos e noventa e nove... Conto, tentando me acalmar. Henrique começa a dirigir a carroça, e eu me concentro na vista que nos cerca, é mato que não termina mais.- Tudo isso faz parte da fazenda de meu pai? - Interrompo o silêncio que havia entre nós dois após um longo tempo na estrada de chão.- Sim - responde.Uma fumaça preta começou a sair de dentro do capô e logo a "Carolzinha" para de funcionar.- Merda - Ele pragueja e desce do carro. Reviro os olhos e o sigo. Assim que desço, meus saltos afundam na maciez da lama. Ahrg... É o segundo sapato que eu estrago em menos de 24 horas, e a conta está aumentando, seu peão maldito...Henrique abre o capô e tira o chapéu para abanar a fumaça que ainda sai do motor, pelo menos eu acho que aquele bando de ferro retorcido é um motor.- Algum problema com a Carolzinha? - provoco, colocando as mãos na cintura. Ele não responde. Mas, pela carranca, parece estar furioso.Rá! Bem feito! Valeu, Deus!Henrique baixa o capô com força e passa uma das mãos sujas na calça jeans enquanto enfia o chapéu na cabeça e começa a se afastar do carro a passos largos.- Ei, cowboy? - O bastardo não se vira e continua andando. Apresso o passo para conseguir alcançá-lo. - Você não vai ligar para um reboque?Ele para debaixo de uma árvore e olha para minhas sandálias.- Por que não tira esses tamancos caros, pelo preço, eles devem fazer até ligação.- Você não faz esforço para ser um cavalo, não é?Ele me fulmina com o olhar e retruca:- Não, é algo bem natural para mim.Eita, filho da mãe, é uma patada atrás da outra. Grosso! - Vamos ficar parados aqui esperando o carro se consertar sozinho? Ele tira a camisa e a enrola em um bolo, usandocomo travesseiro para deitar-se na grama. Lá estava ele de novo, exibindo os músculos sem camisa. Sinto ondas de calor irradiando pelo meu corpo. Ele cobre o rosto com o chapéu.- Vou esperar o sol baixar um pouco. No entardecer, caminhamos de volta para o chalé. Esperar horas aqui no meio desse final de mundo ao lado desse brucutu bronco? Não, muito obrigada! Começo a fazer o caminho de volta, pelo menos o que eu achava que me levaria para a casa.- Está indo na direção errada - ouço-o gritar, mas ele continua deitado.- Não perguntei a você! - respondo. - Eu disse que ia explorar essa fazenda e é o que eu vou fazer.Sigo por uma trilha de terra que guia para o interior de algum tipo de bosque. Claro que eu estava perdida, mas Bruto não precisava saber disso, era só mais um motivo para ele dar risada com aquele Jairo Bundão. Meu pai do céu, eu vou morrer de desidratação a qualquer minuto, árvores e mais árvores e um mato que não tem fim. Se eu não morrer de sede, sem dúvida morrerei sem uma gota de sangue, graças a nuvem de mosquitos que me persegue enquanto eu caminho.- Graças a Deus! - exclamo quando vejo o açude a poucos metros de distância. Com o salto afundando no terreno barros que cercava o lago, eu chego mais perto. Fico acocorada,equilibrando-me para meus joelhos não toquem o lamaçal.Olho para trás para ter certeza de que estava sozinha. Só mato. Muito mato. Com as mãos unidas em forma de concha, apanho um pouco de água e, antes de levar o líquido fresco àboca, dou uma cheiradinha só para me certificar de ser limpa. A água está uma delícia, fresquinha. Se Matt me visse nesse estado, teria um ataque de risos, eu usava um vestido de quase quinhentos reais e uma sandália de oitocentos e alguma coisa, mas eu estava de cócoras como uma índia prestes a ganhar um filho na beira do rio. Deus tinha um senso de humor maligno. Dou mais uma olhada rápida para trás só para me certificar de que estava sozinha. Nenhum sinal dele. Com as mãos pingando, desato as tiras, uma por vez, me livrando das sandálias. Limpo as mãos na água e abro o zíper lateral do vestido, ficando apenas de calcinha esutiã. Penduro a roupa e as sandálias em um galho deárvore e volto para o lago. Cautelosa, entro aos poucos nas águas escuras, a sensação do lodo em meus pés é nojenta, um misto de algas, água e barro por entre meus dedos dos pés, me causando arrepios desagradáveis. Com a água batendo na altura dos meus seios, eu resolvo apenas relaxar e ignorar o fato de que eu estou no cu do mundo com o senhor cavalão. Fecho os olhos e boio, deixando a água sustentar o peso do meu corpo. Com a água cobrindo meus ouvidos, os sons se tornaram mais abafados, mas eu soube no exato instante em que Henrique entrou naquele lugar. Afinal de contas, discrição não era o seu forte.Meu corpo se ouriçou em estado de alerta.O que diabos esse peão está fazendo? Ele mergulha, e eu o perco de vista. Fico nas pontas dos pés, tentando enxergar onde ele está, mas não há movimento na água, apenas os círculos concêntricos que surgem por causa de meus movimentos.- Henrique? - pergunto em voz alta.O bastardo não responde.- Não tem graça, Henrique. Apareça! -aumento o tom em advertência.Sinto um beliscão em minha bunda e grito alto. O infeliz vem à superfície e fica de pé, jogando os cabelos molhados para trás. Era a segunda vez que ele me tocava contraminha vontade. Quem ele estava pensando que é?O tapa estalado em seu rosto faz a palma de minha mão arder. Ah, que ódio desse homem! Ele passa a mão pelo rosto e tenciona o maxilar, como se aquela fosse a primeira vez que apanhasse na vida. Nenhum homem me tocaria sem que eu permitisse, jamais! - Não sei a que tipo de mulher você está acostumado, seu brucutu, mas é bom manter essas suas mãos bem longe de mim. Não vou admitir que ninguém me toque se eu não quiser. Entende? - Brado duramente.Henrique chega mais perto, e eu tenho que inclinar a cabeça para cima para conseguir encará-lo. O cretino é alto.- Alto e claro, doutora.O peão passa as mãos molhadas pelos cabelos negros mais uma vez e gotas de água correm por seus músculos tencionados com o movimento.Com a raiva que eu estou sentindo dele nesse momento, eu poderia afogá-lo com facilidade, isto é, se ele não fosse uns trinta centímetros mais alto e se seu corpo não fosse uma parede de músculos. E, mesmo depois do que eu havia dito, o filho da mãe ousou tocar em minha nuca, sem desviar os olhos escuros dos meus. Mas a carícia de seus dedos torna-se um beliscão leve, e eu dou um passo para trás.- Ai! Você está louco?Henrique balança uma gorda minhoca preta entre os dedos e diz:- De nada!Aos gritos, eu saio me estapeando da água com a sensação de que meu corpo está tomado por vermes sanguessugas. Não tenho nem tempo para xingá-lo graças ao meu ataque de pânico. Mal percebo que ele vem logo atrás de mim.- Tira, tira, tira - eu grito. - AHHHHHHHH, que horror.- Fique parada, doutora, elas não são movidas a gritos e muito menos eu! Henrique me segura pelos braços tentando me acalmar. A muito custo, eu consigo ficar imóvel.- Permissão para pegar nos seus peitos? - Eledá risada e seu olhar para sobre meus seios cobertos pelosutiã, o verme preto colado ali em minha pele.- Vá se fe... - eu apago antes que pudesse terminar de praguejá-lo....
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- Carolina Oliveira

