BRUTO - CAPÍTULO 23 - NÃO PODE SER
11/03/2018
Carolina OliveiraTá legal, eu fui uma cadela com Matt, em meu íntimo, eu sabia que eu teria que ir até ele com uma caixa enorme de chocolates belgas e uma cara de cão arrependido com o rabo entre as pernas. Mas, durante aqueles dias, eu não passava de um animal ferido querendo morder qualquer um que chegasse mais perto.Puta que o pariu!Durante cinco anos, não deixei ninguém se aproximar e, quando eu abro a porra do meu coração e sou correspondida, descubro que estou apaixonada pelo meu irmão?Aquilo era para arrasar qualquer um. E eu não estava diferente.E, pela terceira vez em minha vida, eu passei pelo luto: primeiro, Carlos; depois, a morte de meu pai e agora, Henrique. Eu sei que ele não está morto, é a saúde e o vigor em pessoa, mas aquela era única maneira de afastá-lo de meus pensamentos, ele morrera naquela manhã, poucas horas depois de declarar seu amor por mim.Amor de amantes, não amor entre irmãos.Era dessa maneira que eu o queria por perto, como homem, bruto, e não de outro jeito. Porém, nosso amor é proibido e é por isso que eu deveria matá-lo, ao menos dentro do meu coração.Dez dias se passaram desde que eu havia voltado para meu apartamento, a estranha sensação de estar no lugar errado ainda me perseguia. Eu sabia onde meu corpo clamava por estar, eu só não podia aceitar aquilo. Nunca.Mantive as janelas fechadas e fiquei na penumbra por dias, como uma morta-viva, eu recebia as encomendasde pizza e lanches rápidos sem dar muito papo ao entregador. Comer, dormir, chorar.Banho?Já fazia alguns dias que eu não passava nem perto do chuveiro.Eu tinha me dado aquela carta branca, eu não estava numa fossa comum, caramba! Eu tinha me apaixonado pelo meu maldito irmão! Então, não me julgue, ok?!Quando abri a porta para receber o entregador, ele arregalou os olhos ao ver meus cabelos desgrenhados, seus olhos deram uma passada rápida pelo meu corpo, o camisetão gigante de Matt e a cueca boxer. Detalhe, ele não viu a cueca, mas estava olhando para minhas pernas.- Boa noite! - Empurro a nota de cinquenta contra o peito do rapaz e pego o pacote pardo com o logotipo do restaurante de comida japonesa.Antes do garoto gaguejar um obrigado, eu bato a porta com o pé e me aninho no sofá. Ligo a televisão e coloco How Met Your Mother. Rir talvez me faça bem...A campainha toca.Reviro os olhos quando penso no tapado do entregador dizendo que esqueceu o troco ou algo do tipo, então deixo tocar. Recuso-me a atender.Começo a comer. Mas o som da campainha persiste.Que inferno! Bufo irritada. Largo minha caixinha com os sushis sobre a mesinha de centro e saio pisando duro, porém o tapete felpudo abafa o som de minhas pisadas.- O que é? - digo, abrindo a porta.Solto o ar quando vejo quem é.- Carol.Mãe. Eu não suporto olhar para ela nesse momento e tento fechar a porta, mas ela passa pelo vão.- Droga - resmungo.- Carol, você precisa me ouvir, querida.Eu sento no sofá e começo a comer, encho a boca de comida antes que eu diga qualquer merda a ela.Minha mãe se senta ao meu lado e passa a mão em meu cabelo, provavelmente reprovando mentalmente meu estado deplorável.- Para - resmungo de boca cheia sentindo os olhos marejarem de novo.Eu já estava cansada de chorar.Era isso que acontecia quando eu me dava ao luxo de abrir meu coração, ele era partido em maispedaços do que eu poderia contar.- Filha, me deixe falar - suplica com tristeza na voz.Jogo a comida no chão. Por Deus, como eu estava com raiva dela, ela sabia de tudo? Sabia que Bruto era meu irmão! Sabia do caso de papai!- Mãe, eu não quero ouvir nada. Será que você não percebe que eu estou sofrendo, droga. Eu sei que eu nunca atendi suas expectativas, mas ter prazer com isso já é demais.Ela segura minhas mãos e as aperta.- Carolina, você ama esse rapaz? - Seus olhos inquisidores avaliam meu desespero.- Claro que amo - confesso. - Mas isso não vem ao caso, não é? Ele é meu irmão e nós não podemos ficar juntos. E sabe o que mais, mamãe? - Minha voz é sarcástica. - Eu posso estar esperando um filho dele. - E as lágrimas começam a cair de novo.Era insano dizer algo assim em voz alta, mas era a verdade.- Então você vai querer ouvir o que eu tenho a dizer. -Ela respira fundo e começa a contar a sua história.- Meu casamento com seu pai foi apenas um acordo entre nossas famílias, unir patrimônios, enriquecer ainda mais a família Oliveira e a família Ferraz. Eu e seu pai nos dávamos bem, tínhamos um único interessem em comum, o poder que o dinheiro poderia nos proporcionar.O casamento era uma fachada.- Então, quer dizer que eu não sou filha dele?- pergunto secando as minhas lágrimas. - Você teve um caso fora do casamento também?- Deixe-me terminar - ela me repreende. - Muitos anos atrás, chegou em nosso escritório uma mulher querendo conseguir na justiça uma permissão para realizar um aborto. Naquela época, as leis não eram como são agora. Seu pai e eu convencemos a mulher a seguir com a gestação. Ele sabia de minha paixão por crianças e meu problema para engravidar. Ver aquela mulher querendo dar fim a vida de uma criança, e eu ali, ávida por um filho.Ela secou algumas lágrimas e prosseguiu sem soltar minhas mãos. - Pagamos pelos exames, todo o pré-natal, eu vi seu desenvolvimento mês a mês, chorei quando ouvi seu coraçãozinho batendo, amei seu pai naquele dia, por me proporcionar a alegria de ser mãe. Quando você nasceu, eu fui a primeira a tê-la em meus braços, porque você é a minha filhinha teimosinha e chorona. Carolzinha, você gritava tanto quando nasceu, parecia que ia colocar o hospital abaixo.Eu sorri, emocionada com aquelas confissões. Era tão estranho vê-la vulnerável daquele jeito, minha mãe sempre fora distante e agora ela abria-se daquela maneira.- Você foi a luz em nossas vidas. Todos os dias de minha vida, depois daquele, foram tensos. Eu temia que aquela mulher voltasse e reivindicasse sua guarda. Na adolescência rebelde, você me dizia que eu não a amava o suficiente.Eu pulei em seu colo e abracei com força.- Para, mãe! - Chorei sentindo sua dor.- Mas eu sempre a amei, Carolzinha. Você sempre foi o meu bebê, minha pimentinha linda e rebelde. Eu a amei e amo tanto que não posso esconder a verdade.Henrique é o filho biológico de seu pai. Eu sempre soubeque Isaura dera um filho a ele, mas eu não me importava,eu tinha você. Minha mãe me fez um cafuné e me acalmou até os soluços e o choro passarem. Ela ergueu meu rosto eenxugou minhas lágrimas com as mãos trêmulas.- Será que pode me perdoar?Se eu poderia perdoá-la? Aquilo só podia ser brincadeira!- Não interessa o que um teste de DNA qualquer possa dizer, você é minha mãe e, apesar desses pezinhos de galinha e essas ruguinhas começando a aparecer aí, é a cinquentona mais estilosa do Brasil! - Eu encho sua bochecha de beijos e a abraço apertado.Ela ri e seca algumas lágrimas que caem, mas sua maquiagem permanece impecável.- Cinquenta? Nunca mais repita isso sua malcriada. - Ela brinca. - Agora, vá lavar esse cabelo e tomar um longo banho, ou aquele cavalão pelo qual você se apaixonou não vai querer chegar nem perto de você. Eu rio e meu coração dispara, preciso contar para ele!Matt! Preciso ligar para o Matt!Banho! Realmente preciso de um banho.- Eu já volto - digo nervosamente. - Mãe, liga pro Matt e pede pra ele vir aqui com urgência.Eu corro para o banheiro e entro debaixo do chuveiro. O jato de água é morninho, não tem como eu não lembrar dos banhos frios a conta gotas lá na fazenda.O quê? Eu estava com saudade da fazenda? Não... da fazenda não. Só do Bruto!Aquele cavalão lindo, gostoso e maravilhoso.*Quando saí de meu quarto quase uma hora depois, minha mãe já tinha tomado conta do meu apartamento, abrindo todas as cortinas, retirando as caixas de comida espalhadas na mesinha de centro, e Matt, meu Matt, já estava lá. Ele estava parado, olhando para um quadro que eu fiz de uma foto nossa quando nos formamos em Direito juntos.Ah, Matt... meu coração se aperta quando o vejo. Espero que ele possa me perdoar.Posso ser uma excelente advogada, mas quando se trata de minha vida pessoal, sou uma bosta com palavras e, dependendo de meu humor, as patadas voam para todos os lados.Eu corro até ele e o abraço.- Desculpe, desculpe. - Eu fico na ponta dos pés e passo as mãos por seus cabelos penteados para trás, eu sei como ele odeia isso, mas é mais forte do que eu.- Desculpe, Matt, por favor.Eu o beijo na bochecha, no queixo, selinhos rápidos, inclusive um na boca. Ele ri e me afasta.- Tudo bem, bunduda. Só te perdoo porque esse potrinho que você provavelmente está esperando vai precisar de um padrinho lindo e inteligente por perto.Eu fuzilo minha mãe com o olhar.- Maaaaaaãe! - eu protesto. Ela afofa as almofadas. - Posso saber para quem mais você contou?- Eu tinha que convencer o bonitão de algum jeito - ela se explica e põe as mãos na cintura, empinando o nariz. - Quando essa criança nascer, você vai ter que ensiná-lo a me chamar de tia. Sou muito jovem para ser avó.Reviro os olhos e volto a minha atenção para Matt.- Como você comprou minha passagem se não tinha documentos? - pergunto, lembrando que eu havia saído tão desesperada da fazenda naquele dia que eu tinha deixado tudo pra trás.Ele sorri e passa as mãos pelos cabelos e já está lindo de novo, os olhos azuis faiscando.- Ah, você sabe, as mulheres não resistem ao meu charme. - Belisco sua barriga tanquinho por cima da camisa, e ele ri.- Hum... acho que vou precisar de seus belos olhos azuis de novo. E seu cartão de crédito.- E ir para o meio do mato e ver vocês dois se agarrarem como coelhos? - ele provoca.Minha mãe pigarreia lembrando que ainda está na sala.- Menos, por favor. Não preciso saber dos detalhes - nos repreende. - Eu aceito - ele diz, por fim, e dá um tapa naminha bunda.Pronto, agora eu sei que estamos bem.Dou alguns pulinhos de felicidade e o abraço apertado.- Obrigada, obrigada, obrigada! Você é o melhor! - elogio aos gritos.- Eu sei, eu sei. Mas grite menos, quero conservar minha audição pelo menos até a minha velhice- ele brinca.*Ah, não! Eu quero gritar de frustração, o voo mais próximo para Campo Grande irá demorar a partir.Faço os cálculos mentalmente e devo chegar na fazenda pouco depois da meia noite.Merda!Agora falta tão pouco!Meu Deus, só de pensar que não somos irmãos, a felicidade toma conta do meu corpo, e eu rio sozinha, sentada em uma das poltronas elétricas que massageia meus braços, pernas e bunda, fazendo-me tremer. Matt está ao meu lado.- Eu achava melhor você ter ligado antes de sair como uma louca - ele aconselha. - Pelo menos ia saber se ele está em casa.Eu viro a cabeça para ele e tento explicar:- Lembra aquele dia que liguei para você, poucos depois de meu celular ter se espatifado? - Ele faz que sim com a cabeça. - Pois então, aí eu liguei do telefone fixo. Só que ele me ouviu falando mal dele para você, ficou com raiva e arrancou o fio do aparelho.Matt riu.- É um ogro.- Eu sei. O meu ogro - digo baixinho e fecho os olhos tentando aproveitar a massagem, mesmo que eu esteja com tanta pressa que eu iria correndo até lá.*O voo parece interminável, quando chegamos no aeroporto de Campo Grande, Matt aluga um carro e dirige até a fazenda.Meu Deus! Estou tão nervosa.Abro a bolsa e retoco o batom. Após meia hora dirigindo por uma estrada de terra, chegamos à fazenda.Matt estaciona em frente ao chalé. Respiro fundo. Apenas uma luz amarelada ilumina a varanda.- Está preparada? - ele pergunta parecendo ansioso.- Não - digo sincera. - Me espere no carro, o último encontro de vocês não foi dos melhores.Eu passo a mão pelo rosto de Matt, a marca roxa já havia desaparecido.- Tudo bem. - Ele deposita um beijo em minha testa e sorri. - Vai Carol.Desço do carro e deixo a porta aberta, minhas pernas tremem com mais força à medida em que entro na casa de madeira.Está tudo escuro ali dentro, o silêncio perpetua.Tiro meus saltos para não fazer barulho enquanto caminho até o quarto de Bruto. Quero surpreendê-lo. Empurro a porta e a surpresa é totalmente minha.Não! Não pode ser.Zira está inteiramente nua e dorme um sono profundo ao lado dele. Bruto está sem camisa e um lençol encardido cobre parte de seu corpo.- Não... não pode ser - repito baixinho, sentindo minha esperança morrer naquele segundo.CONTINUA...DEIXE SEU COMENTÁRIO ...
