#BRUTO - CAPÍTULO 11 - Segredos

06/03/2018

Carolina Oliveira"- Carolina, sabe que isso terá um grande impacto nos processos que você está acompanhando, seus clientes não gostaram de saber que outro advogado está cuidando dos seus casos.- Dê um jeito nisso, doutor Cleber, eu trabalho nesse escritório há cinco anos consecutivos e, em todo esse tempo, não tirei férias, acredito que o escritório tenha lucrado bastante nesses anos todos em que me afundei em processos para aliviar a dor do luto por Carlos. Ele largou a caneta sobre a mesa, analisando mentalmente meu último argumento, meu chefe sabia que eu estava certa.- Tudo bem Carolina. Leve o tempo que precisar." Rememoro nossa última conversa enquanto desmancho minúsculos comprimidos laxativos que eu usava uma vez ou outra por causa do intestino preso. Aquela palhaçada toda já estava no terceiro dia, e o peão teimoso era irredutível. Ele merecia uma resposta à altura depois de colocar as finas mantas e mimos que Matt trouxera para mim aos porcos e galinhas. Por sorte, escondi a comida. Estávamos em guerra declarada. Qual de nós cansaria primeiro? Eu ou ele? Após meia hora plantado no vaso, e eu com a barriga doendo de tanto rir, tive que me reestabelecer e preparar para o contra-ataque do brucutu. Mantive um estoque de comida e enlatados bem escondidos dentro do forno a lenha, eu só precisava ficar atenta quando a mãe do peão voltasse, para ela não colocar fogo em minhas coisas quando acendesse o forno. Aproveitei aquela tarde em que o cavalão estava tendo "um dia de rei" e comecei a vasculhar a casa. O chalé não era muito grande. Entrei no quarto da mãe do peão, tudo ali era muito simples. A cama de casal com um colchão gasto e um lençol puído. A cômoda com um calço no pé para manter-se de pé, mas o que chamou minha atenção, foi o porta- retrato ao lado da cama. Senti um aperto no peito quando vi a foto de me upai bem mais jovem abraçado a uma mulher sorridente, a moça da foto não era minha mãe, e sim Dona Isaura. Fui até o sofá e peguei meu celular novo, voltei ao quarto e tirei uma foto da fotografia. Talvez, a partir dali, eu pudesse descobrir por que meu pai me dera este castigo póstumo. Coloquei o porta- retrato de volta no lugar e fui para a rede presa em frente à casa, onde normalmente bruto descansa. Espanei o pano e estiquei o tecido, medeitei ali e comecei a trocar mensagens com Matt.Eu: Acho que em vez de peão eu vou passar a chamá-lo de cagão (emoticon de diabinho)Matt: O que você aprontou?Eu: Apenas o que ele merece. Sabia que o cretino jogou minhas coisas fora? Quase tudo o que você trouxe para mim.Matt: Acho que, no fundo, você está gostando dessa guerra, do contrário já teria vindo embora. Eu: Então acho que você não me conhece tão bem quanto eu imaginava. Desligo o celular e penso na última mensagem. Será que o Matt perdeu o juízo? Depois de tudo oque eu falei para ele, como ele tem coragem de dizer uma coisa dessas?- Ah, potranca é bom suas pernas correrem tão rápido quanto dão coices, porque vou pegar você agora.- A voz de Henrique soa em uma ameaça.Eu salto da rede em um pulo e olho para dentro do chalé. Encontro nos olhos negros do peão uma fúria sem tamanho. Então, eu corro. Corro tão rápido quanto um morcego foge do fogo do inferno. Não tenho coragem de olhar para trás. Sinto que ele está se aproximando quando ouço sua respiração em bufadas iradas. Os braços do peão me envolvem e tiram minhas pernas do chão. O filho da mãe é forte como um cavalo! - Me solta, seu cretino! Eu devia ter colocado veneno! - berro aos quatro ventos.- Astah! - Ele lida comigo como se estivesse lidando com sua égua, o que me deixa possessa. - Sabe oque eu faço com as vacas brabas? Apesar de eu me debater e tentar me desvencilhar, continuo sendo levada à força para o celeiro.- Vaca é sua mãe, seu peão ignorante. Ele bufa em meu pescoço e continua a me carregar.- Seu pai era um bom homem, mas, pelo visto, você deve ter puxado a sua mãe.Como ele ousa falar mal da minha mãe! Só eu posso fazer isso, afinal tenho propriedade no assunto.- Vá se ferrar, seu Brucutu!Ele me arremessa no chão do celeiro coberto por uma palha rançosa e fedorenta. Eu engatinho tentando escapar, mas ele pega, em um dos pilares que sustentam o galpão, uma corda.Corda? Não, não, não;- Quando a égua ou a vaca é muito braba, ela precisa ser amarrada. - Ele puxa minhas pernas pelo tornozelo. Eu grito! - Paaaaaara! - Acerto um chute em seu peito, mas ele está tão bravo que parece não sentir.- Viu? Esse é o motivo. Assim você vai aprender a não ficar distribuindo coices à moda louca. -Seus movimentos são rápidos. E eu grunhi, arranhando seus braços e peitos em uma fúria incontida.Mas é inútil, logo ele pega a outra corda e começa a dar voltas em meus pulsos.- Você é louco? Solta agora! - Minha voz sai rouca de tanto que já gritei.Henrique sorri satisfeito ao me ver imobilizada e bate as mãos nas coxas.- Bem melhor assim.- Você me paga, peão! É bom você saber dormir de olhos abertos.Ele arqueia as sobrancelhas e o canto dos lábios se erguem em um sorriso sacana. Ele se inclina, puxa acorda que amarra meus pés e me arrasta pelo celeiro, sinto a palha cagada grudar em minhas costas.Ahrg!- Pronto... - Bruto enrosca parte da corda de meus pés ao lado do cercado dos porcos. O cheiro de estrume e lavagem me revira o estômago no mesmo instante. Não, ele não vai me deixar presa aqui. Ele não teria essa coragem.Bruto teve! Os porcos olhavam a cena toda com os focinhos cor de rosa tentando me cheirar por entre as madeiras que os cercavam.- Volte aqui, seu Brucutu!Ele já estava indo para o chalé.- Henrique! Vem aqui, Henrique! Ele não voltou.- Espero que sua égua querida tenha virado linguiça a essa altura.Não sei quanto tempo se passou desde que Bruto me prendera ali, meu celular havia caído enquanto eu fugia dele. O cavalão ficou me observando à distância, se embalando na rede enquanto mexia no meu celular e tirava fotos minhas, às vezes dele.Quando o sol começara a desaparecer por meio das nuvens, dando um tom alaranjado ao céu, o bastardo caminhou em minha direção.- Tarde, doutora. Como foi seu dia?Eu cuspo. Se bem que aquilo não foi bem um cuspe, eu estava morta de sede, então estava tão desidratada que não tinha nem baba para cuspir.- Tem alguma coisa para me dizer?Eu o encarei e continuei em silêncio.- Estou esperando. - Ele olha em seu relógio de pulso e ergue um pouco a aba de seu chapéu. - Tudo bem, eu tenho todo o tempo do mundo, potranca.Meu sangue fervia nas veias quando ele me chamava disso.Henrique vira-se de costas e caminha de volta para casa.As bundas iluminadas dos vagalumes dançavam pelo breu que me cercava. Já havia anoitecido, a lua minguante cercada pelo céu estrelado tornava a visão daquele céu inesquecível, é claro que a beleza daquilo era suprimida pela raiva que eu estava sentido pelo peão.Henrique aparece na porta do chalé, carrega, em uma das mãos, um pote grande, noutra, um lampião com uma pequena chama crepitando ali dentro.- Com fome? - ele inclina o pote quando se aproxima, deixando à mostra a comida que eu havia preparado no almoço.Bruto apoia o lampião no cercado dos porcos. Ele esperava uma resposta minha. Continuo em silêncio. Ele ri e despeja a comida aos porcos. Empino o nariz e olho na direção contrária. Não! Eu não imploraria como ele estavaesperando. Eu preferia morrer esturricada de fome e sede do que dar o gostinho de dizer que me domou, como ele costuma fazer com suas éguas e vacas brabas a esse brucutu. Jamais!Ouvi ele se afastar e levar consigo o lampião.Henrique continuou montando seu posto de guarda, deitado confortavelmente na rede. Queria ter uma força sobre-humana, um super poder para matá-lo apenas com o olhar.Como se estar presa junto aos porcos não fosse suficiente, os mosquitos já faziam seu banquete, atacando-me por todos os lados. Meu corpo inteiro estava coçando e fedendo.Minha barriga roncou alto e meu estômago se contorceu em nós, tamanha era a fome que eu sentia. Meu solhos começaram a ficar pesados, e eu não conseguia mantê-los abertos. Dormi sentada. O som do berrante me despertara. Jesus, como eu odiava aquele som, mas não mais que o infeliz que era responsável por ele.Os primeiros raios de sol já iluminavam o céu.- Bom dia, doutora! - Ele sorriu, me encarando com um irritante ar vencedor. - Dormiu bem?- Maravilhosamente bem, os porcos são mais cheirosos e roncam menos que você - retruco.Ele dá uma gargalhada.- É, a língua continua afiada. - Henrique segura nas mãos uma caneca metálica e, pelo cheiro, parece ser café com leite.- Já tem alguma coisa a dizer?Eu olho para o outro lado e o ignoro.- Diacho de diaba teimosa - ouço-o resmungar enquanto se afasta.Descanso a cabeça na cerca e coço minhas picadas. Malditos mosquitos.Maldita fazenda. Maldito Henrique brandão!Fecho os olhos e sinto bicadas na mão esquerda. Recolho a mão e sufoco um grito. Um galo bate as asas e cacareja. - Xô! Xô! - eu berro. - Saia daqui!É melhor eu manter meus olhos abertos. À distância, eu vejo um homem trazer a égua de Henrique.- Ô, patrão! - ele grita. - Olha quem eu achei pastando na beira da estrada!Bruto sai da rede e sorri ao ver sua "preciosa" Moa retornar para casa.O outro peão me olha e uma expressão de surpresa congela em seu rosto. Não ouço o que o brucutu sussurra para o empregado, mas o vejo ir embora se molhar para trás.Bastardo!Bruto puxa a égua e a leva para o celeiro. Um tempo depois, ele retorna e para diante de meus pés. Só não o chuto, pois ele está a uma distância segura.- Bom, doutora... como a Moa voltou, não vejo por que continuar, acho que você já aprendeu a lição, não é?Pode esperar sentado, peão.Ele se inclina, e eu não movo um músculo sequer. Henrique desata meus pés e, em seguida, minhas mãos. Ele sorri e segura meu queixo fazendo-me olhá-lo diretamente nos olhos.- Boa menina.Ele se levanta e vai para o celeiro guardar as cordas que usara para me amarrar. Eu fico de pé e meu corpo chia de dor. Preciso de um banho quente relaxante e muito perfumado para tirar o fedor que se impregnara em meu corpo e cabelos. Também precisava de uma boa refeição e tempo, eu precisava de tempo para elaborar uma vingança à altura.Caminho devagar para o interior do chalé, me certifico de que Henrique não está por perto, não quero que ele veja onde escondo minhas roupas. Pego um vestido leve e um conjunto de calcinha e sutiã e sigo para o banheiro.Não há rastros do dia anterior. Sorrio ao imaginar Henrique cagando nas próprias cuecas que entupiam o vaso e depois tendo que limpar tudo, afinal de contas aquela era a única privada daquele muquifo.Deposito as roupas limpas sobre a pia e tiro a imunda que ainda estou vestindo, abro o chuveiro, esperando que a água quente acalme meu corpo dolorido.- Filho da puta! - berro quando a água fria gela meu corpo. Olho para cima e vejo a fiação elétrica cortada. Desgraçado! Amaldiçoo em pensamento e me lavo na água fria. - Brucutu, você não perde por esperar..

CONTINUA...
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