#ANELISE- CAPÍTULO 4

29/06/2018

Dentro? Eu ouvi direito?
- Jura? Mas como assim? Você nem ouviu os detalhes do plano, nem combinamos valores. - que fácil! Se eu soubesse que arranjar um marido seria fácil assim, já estaria casada há tempos.
- Vamos fazer isso, mas antes vamos pedir alguma coisa para comer, porque eu estou morrendo de fome. A última cliente que eu atendi hoje tem 19 anos, então imagina o que ela fez comigo...
- Ah por favor, me poupe - eu fuzilo ele com o olhar - Não sou o tipo de mulher que discute essas coisas em uma mesa de jantar.
- Não estamos discutindo isso, estou te falando apenas. Foi uma breve observação.
- Guarde suas observações para você, Petrus - que cara sem noção! -Vamos tratar de negócios.
- É exatamente por isso que você está procurando um marido nos classificados de garotos de programa - ele revira os olhos.
- Por isso o que?
- Nada, deixa pra lá. Vamos falar de negócios então.
- Você é insuportável, isso não vai dar certo. -bufo do outro lado da mesa e ele me olha com desprezo.
- Não sou eu que preciso de um marido aqui, Ane. A minha herança já foi tirada de qualquer jeito. Você quer ou não fazer isso? Eu já disse que estou dentro, mas eu mudo de opinião rápidamente.
- Ahhhh - eu bufo de novo. - Ok, ok. Desculpa. Vamos pedir o jantar e combinar isso direito.
- Que lindo, nossa primeira DR. - ele se inclina para trás na cadeira e pisca para mim.
Onde eu fui me meter?
[...]
Depois de jantarmos uma deliciosa vitela ao molho rosê com ervilhas escolhida a dedo por ele e conversarmos sobre as atualidades, resolvemos enfim falar sobre os detalhes do meu plano insano.
- Eu preciso de três meses, Petrus. Serão os três meses que eu vou ficar no litoral nessa disputa idiota. Se eu conseguir dobrar ele e voltar antes, te pago o combinado dos três meses de qualquer forma.
- Três meses é muita coisa Ane. Tenho clientes fixas aqui, e se eu ficar três meses longe delas, quando eu voltar alguém já tomou meu lugar.
Droga, eu não tinha pensado nisso. O desespero começa a me tomar. É obvio que esse plano idiota não daria certo.
- tudo bem, tudo bem - ele interrompe meu pensamento. Acho que minha cara de desespero estava muito evidente - Tudo bem, três meses. Vou ver o que posso arranjar com as fixas.
- Talvez, você pudesse vir pra cá aos finais de semana, alegando que você vai ver sua família... Algo assim. Nós damos um jeito, eu garanto. Só por favor, eu preciso mesmo de você.
- Ane, você não precisa de mim, especificamente. Você precisa de um marido.
- Mas é que conversando com você... Cheguei á conclusão de que não teria ninguém melhor pra essa farsa - eu faço beicinho.
- Isso foi um elogio? - ele dá um sorriso encantador e ergue a sobrancelha, questionando.
- Não passou nem perto de um elogio. Mas enfim, vamos aos detalhes técnicos.
- Sim, vamos á eles. - ele chama o garçom de novo e mais uma vez eu consigo ver os músculos esculpidos na camisa - Por favor, me traz um Château Latour e dois pedaços daquele bolo trufado que vocês tem aqui.
Se vira pra mim novamente.
- Prossiga.
- Você já veio aqui? - eu pergunto assustada com a familiaridade que ele pediu aquele vinho caro e o meu bolo de aniversário.
- Algumas vezes. Você já comeu aquele bolo trufado de chocolate com morango que eles fazem? É... Divino.
- Como assim se eu já comi? É meu bolo de aniversário! - eu digo ofendida, como seu eu fosse a única possuidora do direito intransferível de comer aquele bolo.
- Deveria ter seu nome nele então - ele ri enquanto saca o celular do bolso e não me dá a mínima atenção - Sua conta vai ficar cara. Já estou aqui há duas horas e você ainda vai pagar o jantar. - ele guarda o celular e sorri sarcástico.
Filho da mãe.
- Você pediu um vinho caríssimo. Você tem noção de quanto aquilo custa?
- Claro que eu tenho noção. Eu poderia ter pedido um Petrus, que é muito mais caro -nesse momento sua voz se enche de luxuria e me dou conta de uma coisa: eu quero esse cara. Eu me odeio logo em seguida por pensar nisso e tento voltar ao foco da conversa- Os Petrus normalmente são mais caros mesmo. E mais desejados. Até a Rainha Elizabeth II se encantou por um, minha cara.
- Caramba, você entende de vinho mesmo.
- Pra entender do que eu estou falando, você também deve conhecer. Relaxa ai mocinha, a conta eu pago. Mas minhas horas ainda estão rodando.
- Falando nisso, quanto é a sua hora? - percebo que perguntei muito na lata e me recomponho - Preciso saber para calcularmos quanto essa brincadeira vai me custar.
Ele sorri e me encara com aqueles grandes olhos azuis.
- Nossa, você me faz parecer um prostituto falando assim - eu bufo e reviro os olhos. Não preciso de piadinhas a essas horas da noite. Ele continua:
- Depende: se for como acompanhante, um preço... Se for para a ação mesmo, outro. E varia também se eu vou ou não com a cara da fulana.
- Estou ferrada então - eu dou risada.
- Quem disse? Eu gostei de você, apesar de isso ir contra toda a lógica. Você é mimada, arrogante e pentelha, mas eu gostei. Por isso vou te fazer o meu preço mais barato: 800,00 reais a hora e não se fala mais nisso.
- 800 reais a hora?? Isso dá quase 20 mil reais por dia, você está louco?
- Anelise, você não me achou ali na rua. Eu não sou qualquer um. Meus valores variam de 800,00 á 2 mil a hora. Eu me visto bem, falo bem, falo outras línguas e por favor... olha pra mim. E não, não é me achar, mas você sabe que eu tenho razão, a minha carteira de clientes só tem nomes conhecidos. É pegar ou largar. - ele se encosta na cadeira como se fosse o dono da situação e o pior: eu sabia que naquele momento, ele era. Ele tinha razão em tudo! Eu não ia achar um cara tão completo assim em nenhum lugar. Suspirei fundo e assenti.
- Tudo bem, você venceu. Vamos firmar um valor fixo, ok? No final do contrato, te pago um milhão e meio. Nem um centavo a mais, nem um a menos. É pegar ou largar.
- Eu pego - ele é rápido na resposta -Estou nessa só pela diversão mesmo.
- Claro, como se um milhão e meio não fosse nada... Até para eu que sou rica, isso é alguma coisa Petrus.
- Claro que é alguma coisa. Só estou dizendo que não é o mais importante nessa história toda. Mas como vamos fazer para nos conhecermos até sábado? Pelo que você disse do seu pai, ele vai querer saber tudo sobre nós.
- Pensei em nos encontrarmos todos os dias para conversarmos, tirarmos dúvidas, fazermos anotações. Isso precisa ser perfeito. E claro, até lá vou pagando o seu horário por fora até irmos para o litoral.
- Combinado. Já posso te chamar de meu amor?
- Nem a pau.
Ele balança a cabeça e sorri.
- Olha, nosso bolo chegou. - ele pega o garfo e coloca um pedaço na boca. A expressão de felicidade que ele fez foi o bastante pra me fazer decidir comer também. Me senti uma traidora pela segunda vez naquela noite: só meu pai comprava aquele bolo para mim.
Enquanto observo ele comer, tenho uma idéia.
- Acho que podíamos sair de mãos dadas hoje. O Maitre é amigo do meu pai, seria um bom álibi. Pode dizer á ele que já nos viu comendo aqui. - dou um sorriso amarelo com medo de ser rejeitada. Mas eu precisava tentar. O plano
teria que ser perfeito.
- Claro, sem problemas por mim - ele sorri genuinamente e eu sorrio de volta, aliviada.
Comemos o bolo, bebemos o vinho e ficamos ali ainda, mais um pouco.
Conversamos sobre várias coisas mas nada em específico. Não me importei que o tempo estava passando e a hora dele rodando como ele mesmo disse.
Era bom conversar com ele e saber algumas coisas que ele pensava. Fazia parte do plano, não fazia?
Ao final da noite, ele se levantou e ficou em pé á minha frente me esperando.
No começo não entendi direito, mas ele ergueu a mão em minha direção e eu entendi que sairíamos ali de mãos dadas, conforme o combinado. Pousei minha mão na sua e percebi como ela ficou pequena ali. Ele tinha mãos enormes e fortes e eram bem cuidadas e macias. De novo aquele pensamento incômodo: ele as usa para trabalhar... elas precisam ser agradáveis.
Não sei bem se eu estava fria, ou se fazia tanto tempo que eu não tocava em ninguém que as mãos dele pareciam me queimar. Passamos por Enrico que fixou seu olhar em nossas mãos. Ótimo! Eu já tinha um pequeno álibi se
necessário.
Depois de cruzarmos a saída do restaurante, ficamos ali parados até um ter a coragem de se soltar. Eu fiz isso.
- Como eu faço para te pagar? -perguntei, tentando me distrair da estranha sensação que havia se apossado de mim ao segurar sua mão.
- Amanhã a gente vê isso. -ele sorri e eu posso estar enganada, mas foi um sorriso gentil.
- Você não vai precisar do dinheiro para hoje?
- Não, tudo bem. Eu tenho capital de giro - ele tenta fazer piada e eu rio.
- Ok, posso te ligar amanhã então para combinarmos um horário e começarmos nosso plano?
- Claro, vou esperar.
Dirigimo-nos em silêncio até o estacionamento do restaurante, onde nossos carros estavam. Peguei a minha chave com o manobrista e ele também, e paramos ali, no centro do estacionamento. Depois de alguns segundos ali parados, ele me diz:
- Sabe, você passou sua mensagem.
- Que mensagem? - eu pergunto confusa.
Ele ri.
- A mensagem de que você é rica e bonita e não precisa disso. Dá pra ler no seu rosto que você queria me dizer isso. Mas deu certo, de verdade. Eu realmente entendi que você é rica e não precisa disso. E linda, bom, isso é indiscutível.
Sinto um leve formigamento na espinha. Ele me acha bonita?
- Não sei do que você está falando - eu tento disfarçar e mexo na bolsa, para distrair o foco.
- Tudo bem, você não sabe -ele debocha - Mas eu trabalho com mulheres, eu sei tudo sobre vocês - olha pro chão e depois sacode os ombros, como que afastando algum pensamento ruim para longe - Nos vemos amanhã então?
- Sim, claro. Eu te ligo, pode ser?
- Estarei esperando. - ele acena para mim enquanto eu me dirijo ao meu carro. Aperto o alarme e as portas da minha Mercedes Kompressor destravam.
- Uau, uma Kompressor ! - ele assovia do outro lado e ri. -Você tem estilo.
-Obrigada, essa belezinha não é pra qualquer um mesmo. - eu me faço de arrogante - Você pode andar nela quando for meu marido.
- Ficarei agradecido. Eu, um pobre homem que faz negócios escusos andar em algo tão estonteante... - sinto a ironia, mas dou risada porque sei que ele gostou do carro. Todos gostam.
Quando ele termina de rir, vira o braço pra trás sem tirar os olhos de mim, possivelmente para não perder minha cara de espanto e aperta o alarme da chave que está em sua mão. Uma BMW X6 branca pisca as luzes e destrava.
Percebo que eu deixei minha boca cair, porque ele me dá um sorriso irônico.
Ele se dirige ao carro e ao abrir a porta, se vira pra mim e diz:
- Eu disse que eu estava nessa só pela diversão - ele pisca pra mim, provocativo - Até amanhã, Ane.


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