#ANELISE – CAPÍTULO 27

07/07/2018

Acordei exatamente ás 6:00 da manhã. Bom, acordar não é a palavra correta quando não se dormiu de verdade. Corrigindo então: eu abri os olhos ás 6:00.
Enrolei um pouco na cama, mas por fim decidi que eu precisava enfrentar a situação. Me levantei delicadamente para não acordar Petrus. Ele tem sido muito dedicado em meus cafés da manhã, mas hoje eu queria deixá-lo dormir em sinal de gratidão. Seria o primeiro dia na empresa do papai e eu estava uma pilha de nervos. Eu não queria de forma alguma esse cargo, mas se tem uma coisa que meu pai insistia em querer nos mostrar era o valor de ganhar seu próprio dinheiro.
A primeira lição que tirei desse circo que meu pai armou: trabalhadores tem horários. Eu não me lembro de alguma vez ter acordado tão cedo assim na vida; me lembro sim de já ter ido dormir muito mais tarde do que isso, mas
acordar nunca. Minha vida nunca teve alarmes, eu nem sequer sabia mexer em um despertador. Sempre acordei a hora que eu quis e dormi a hora que eu bem entendia. Então, quando o despertador marcou 6:00 em ponto eu entendi que a jornada que eu enfrentaria seria mais dura do que eu imaginava.
Enfrentei-a com uma saia lápis, uma camisa social branca lisa, sapatos Jimmy Choo, um coque no cabelo e um café da padaria mais próxima. Café esse que foi pedido com leite desnatado, sem açúcar e com creme. Como ele veio?
Leite integral, com açúcar e sem creme. Então, apenas uma hora e vinte minutos depois de ter posto os meus pés para fora da cama, eu senti falta de Petrus pela primeira vez no dia.
Ele e seu maldito café bem feito!
Continuei meu caminho até a empresa, passando por ruas lotadas de gente apressada, falando em seus Iphones, usando seus saltos altos. Alguns velhinhos de moletom segurando sacos de pães fresquinhos também compunham o cenário, junto com mulheres em suas roupas de ginástica correndo pelas passarelas ou segurando seus cães pelas guias. Engraçado como a vida matinal era novidade para mim.
Passei pela grande porta de vidro onde se lia Schimidt Corp. e quase congelei até a recepção. Primeira providência seria pedir que diminuíssem o ar condicionado desse lugar. Olhei para ambos os lados da entrada e vi grandes vasos de flores por todos os cantos; dos elevadores, entravam e saiam pessoas, todas com a mesma expressão: tédio. Mesmice. Rotina. Eu via robôs engravatados.
Um pequeno ataque de pânico se instalou dentro de mim, e cheguei a dar a volta em meus próprios pés, com a clara intenção de me retirar dali. Essa não era a minha vida, eu não gostava disso.
Sério, o que eu estava pensando quando aceitei isso? Porque eu estava aqui?
Caminhei rapidamente até a grande entrada de vidro, batendo meus saltos pelo chão e sentindo uma terrível falta de ar. Por um segundo, eu vi claramente o tamanho da insanidade que eu estava cometendo, não só em relação á empresa, mas em relação aquele falso casamento. Em relação á Petrus.
Petrus.
Por um segundo, pensei em correr para ele, pedindo colo e considerando cancelar esse plano ridículo, mas eu precisava ir em frente e acabar com isso sozinha.
Enquanto atormentava a mim mesma entre querer levar aquilo adiante e ligar para meu pai na mesma hora, uma mão tocou meu ombro. Me virei e um simpático rapaz me olhava inquisitivo.
-Ahn, tudo bem com você, senhorita? Digo, me desculpe se pareço intrometido, mas você me parece um pouco confusa.
- Não ... Sim... Digo, está tudo bem sim. Só estou um pouco perdida, é meu primeiro dia.
-Ah, claro ! Esse lugar é enorme, não é? Sou perfeitamente capaz de me perder, e olha que trabalho aqui há seis anos. Me chamo Nicolas. Em qual setor você irá trabalhar? - ele me olha de um jeito engraçado, e percebo que devo estar com uma expressão muito pateta na cara.
Em qual setor eu iria trabalhar?
-Nicolas, você vai rir...Mas eu não sei.
- Não sabe? - ele torce o nariz e tenta segurar o riso, mas não consegue e rimos juntos - Pode me chamar de Nick, já que vamos trabalhar juntos. Hmm, como é seu nome?
-Anelise, desculpe a indelicadeza, nem me apresentei. Me inclino em sua direção e aperto firmemente sua mão. Sem nenhum motivo aparente, esse cara me inspirava confiança.
-Ahhh já entendi tudo. Sabia que te conhecia.
-Me conhece? Desculpa Nicolas, mas não me lembro de você...
-Nick, lembra? - ele sorri e eu sorrio de volta - Te conheço do escritório do seu pai. Tem uma enorme foto sua lá.
Claro! Algumas pessoas aqui iriam me reconhecer, mesmo que eu não quisesse. Nick me indica o caminho e vamos até o terceiro andar. No caminho, ele me conta que trabalha diretamente com meu pai e que irá trabalhar diretamente comigo também. Meu pai já o havia advertido sobre essa situação, e eu fiquei responsável pelo setor de exportação e tudo relacionado a ele. Como eu não entendia nada da empresa, Nick me auxiliaria. Rúbia e Lelo ficariam com setores completamente diferentes, então eu provavelmente pouco os veria durante esse experimento louco.
Após Nick me mostrar meu escritório e me situar mais ou menos dos meus deveres, ele me apresentou á Joice, uma pequena coisinha ruiva que ficaria em uma mesa de recepção na frente do meu escritório. Estaríamos separadas
apenas por uma porta de vidro e eu a veria todo dia, então me agradou ( e muito ) ter ido com a cara dela de primeira.
Uma hora e meia depois, Nick me perguntou se eu gostaria de um café, e diante da resposta afirmativa, ele saiu para buscar. Senti meu celular vibrar na bolsa. A mensagem me deixou de boca aberta.
* Péssima sensação acordar sem você ao meu lado. Não faça mais isso. Me mantenha informado sobre o seu dia. Amo você, Petrus.
AMO VOCÊ.
Amo você, amo você, amo você.
Como eu queria que fosse no mesmo sentido que eu o amava, mas eu sabia que era apenas carinho, proteção. Amizade. Rolei o dedo pelo nome dele e apertei. Ele vai atender no terceiro toque.
Um... dois...
-Ane? - bingo.
-Oi Petrus, só ligando para te deixar informado... Já estou no meu mais novo escritório e o serviço parece ser coisa do cão. Mas tenho Nick e Joice pra me ajudar, então acho que tudo vai dar certo.
- Nick de Nicole ?
-Nick de Nicolas. Porque ?
-Hmmm, por nada. Espero que seu dia seja bom. Vai almoçar em casa?
-Não, vou almoçar aqui mesmo no refeitório. Nick me disse que a comida é boa, então... Não vou me cansar saindo daqui. Tenho pouco tempo para comer.
-Entendi. Tudo bem então. Qualquer coisa me liga, tá?
-Tá certo. Beijo Petrus.
-Beijo Ane.
-Annn... Petrus?
-Sim?
-Eu também amo você.
- Eu sei. Bom trabalho.

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