#ANELISE – CAPÍTULO 2
28/06/2018
Pensa, pensa, pensa. Vamos lá, Anelise. Você consegue.De volta á minha casa, ando de um lado para o outro da sala e roo as unhas incontrolavelmente. Quase faço um buraco no chão indo pra lá e pra cá e deixo meus pobres cachorros com torcicolo, pois a cada volta que eu faço, eles me acompanham com os olhos. Apolo, Thor e Diana são meus três inseparáveis e fiéis companheiros. São irmãos bordercollies que eu ganhei do meu pai quando meu noivado acabou, há alguns anos atrás. Desde então, minha vida é preenchida por latidos, pelos no sofá e brinquedos pela casa. Ás vezes eu penso que meu destino será com eles. Sem marido ou filhos, serei conhecida na rua como a velha louca dos cachorros.Mas voltando ao problema que fritava meu cérebro sem parar: eu precisava de um marido e tinha exatamente 06 dias para arrumar um. Simples não?Pensei em amigos que poderiam fazer esse papel para mim, mas havia dois problemas:1) Nenhum dos meus amigos se prestaria á esse papel.2) Meu pai conhecia todos os meus amigos.Ou seja, cancela a idéia do amigo.Pensei em contratar um ator, e era realmente uma idéia boa, mas o primeiro que eu liguei me cobrou praticamente o olho da cara e eu desisti de primeira.Eu tinha dinheiro, mas certas coisas não valiam a pena.O segundo cobrou um valor até razoável, mas não quis fazer um contrato e quando eu disse meu sobrenome, na hora ele ligou dois + dois e descobriu de quem eu era filha. Senti o cheiro da chantagem e desliguei. Golpista.O terceiro foi uma grata surpresa: cobrava barato e faria o contrato sem problemas. Combinamos de nos encontrar em uma cafeteria perto do meu apartamento. Ele disse que estaria de camisa vermelha e calça jeans, usava óculos e era atlético. Ótimo. Ar intelectual e boa impressão era tudo o que eu precisava. O problema é que quando eu cheguei na cafeteria, o único cara com o qual eu me deparei era um nanico de no máximo 1,50 de altura, careca, com um óculos fundo de garrafa e uma verruga na testa que mais parecia uma estrela. E sim, ele estava de camisa vermelha e calça jeans. Será que ele achou o que? Que eu era cega?Eu sabia que não teria nada com meu marido de aluguel e que beleza não deveria ser o principal, mas por favor, eu ainda tinha dignidade. Apresentar um cara daquele pra minha família era demais até pra mim. Entrei e sai da cafeteria tão rápido que ele nem pode me ver.Voltando pra casa, o desespero já começava a bater. Cogitei por uma ou duas vezes ligar pro meu pai e contar a verdade, me humilhar como uma pessoa sem dignidade e virar a piada da família. Porém, o orgulho falava mais alto e eu ainda achava que era mais fácil tentar seguir com meu plano.Onde eu poderia alugar um homem?E foi aí que eu tive a idéia mais mirabolante da minha vida. Claro!Corri para meu notebook e rapidamente abri a página do Google. Pensei um segundo antes de digitar e me senti uma louca fazendo aquilo. Tudo bem, o mundo é dos loucos. Respirei fundo e digitei:Acompanhantes masculinos.Ok, eu estava procurando um garoto de programa na web. Tranquilo. Coisa natural. Simples. Pessoas fazem isso todos os dias.Quase pirei quando abri a primeira página. Dúzias de rapazes em um site se mostravam digamos... muito á vontade. Achei que a grande maioria eram mulheres, mas havia muitos homens no ramo também. Respirei fundo e prossegui, abstraindo da minha mente aquelas imagens. Fui lendo as descrições embaixo das fotos e me horrorizando com os comentários.Quando as mulheres ficaram tão depravadas?Eu me considero um espírito livre, sem preconceitos e acredito que cada um faça da vida o que bem entender, mas as mulheres perderam a doçura, a feminilidade...Continuo passando as fotos e me desanimo. Nada me interessa. Senhor, que enrascada eu me enfiei. Aonde eu estava com a cabeça para me meter em uma dessas? Será que eu achei mesmo que iria conseguir um marido como quem pede comida em um restaurante? "Por favor, me vê um marido pra viagem?" Eu era ridícula e sei que minha família nunca mais me deixaria esquecer esse papelão.Quando eu achei que iria desistir, de repente uma foto no site me desperta a curiosidade. Encostado em um muro um rapaz de jeans, camisa branca e jaqueta preta com óculos escuros olha para cima. Não estava nu, já eraalguma coisa. Embaixo da foto, só o numero do telefone e nenhuma descrição depravada, prometendo loucuras e uma noite inesquecível. Não tinha nem nome. Acho que a foto falava por si só. Ele era deslumbrante e o ar sério dava mais brilho á imagem. Como as aparências enganam, não? Eu poderia me interessar facilmente por ele se o conhecesse em uma balada ou na rua, talvez.Continuei passando as fotos, mas aquela não me saia da cabeça. Se ele era capaz de manter a discrição em um site como aquele, talvez ele pudesse ser um forte candidato.Entrei em outros sites, visitei outras páginas, até nos classificados eu olhei mas nada me interessou. Eu não poderia usar qualquer um como meu marido.Eu deveria tomar muito cuidado, principalmente para não magoar meu pai.Imagina se ele descobre que eu forjei um casamento com um garoto de programa só para me livrar do trabalho dele? Seria humilhante demais.Volto ao primeiro site e procuro a foto do rapaz misterioso. Fico por alguns minutos olhando aquela foto e roendo as unhas, pensativa. Coloco os prós e os contras na balança e percebo afinal que minha situação já está toda ferrada, de qualquer forma. O que é uma ferida a mais para Lázaro? O que não tem remédio, remediado está... então não custa tentar.Decido ligar.Disco o numero e percebo que minhas mãos estão tremendo. Porque eu estou tão nervosa? Eu não vou contratá-lo para um programa, eu só quero conversar.No terceiro toque, uma voz forte e incrivelmente sexy atende.- Alô.- Ah, oi... alô. Oi.- Oi -ele ri baixinho do outro lado.- Com quem eu falo?- Com quem você gostaria de falar?- Hmm... não sei bem, na verdade. Eu vi seu anúncio.- Ah sim, claro. E qual o tipo de serviço que você precisa?SERVIÇO?- Desculpe, eu sou meio leiga com esse tipo de coisa... sabe, nunca liguei pra um...um... você sabe.Ouço uma gargalhada explodir do outro lado da linha.- Menina, não vá dizer que você é virgem.- Pelo amor de Deus, eu tenho quase 30 anos, claro que não! - eu explodo. - Quero dizer que nunca liguei para um garoto de programa.- Ah bom - parecia que eu conseguia ver o sorriso provavelmente encantador que ele deu do outro lado - E que tipo de serviço você precisa?- Que tipo de serviço você oferece?- eu pergunto curiosa.- Você pode me contratar como acompanhante somente; para uma festa ou um evento ou só para um programa mesmo: motel, chuveiro e tudo mais....ou você ainda tem a incrível opção de me contratar pros dois em uma mesma noite. Eu também realizo fantasias, só não faço nada envolvendo animais, crianças ou nada brutal, porque você sabe, isso é doentio. Ah, também não faço ménage masculino.- E feminino, você faz? - porque eu perguntei isso? Que idiota!- Nesse caso, até de graça - ele ri. -É disso que você precisa?- Não! -percebo meu tom de desespero e controlo a voz - Quer dizer... não, não é isso. Preciso de um serviço parecido com acompanhante, mas teria que conversar com você pessoalmente. Eu pago o encontro como se fosse um programa, para você não perder seu tempo.- Ótimo, sem problema. Onde eu te encontro?Ele não enrolava. Nada de perguntas, direto ao ponto. Assim que eu gosto.- Tem um restaurante na quinta avenida, sabe onde é?- Sei sim. Tenho um horário vago daqui 3 horas, pode ser?Horário vago? Esse homem era uma máquina ou o que?- Tudo bem, pode ser. Já vou estar lá. Entra e pede pro maitre te levar até Anelise, ele sabe quem eu sou.- Ótimo. Não sou bom mesmo em achar pessoas pela cor da roupa. Eu sempre me confundo sabe- uma breve pausa na linha e eu só conseguia ouvir sua respiração -Bom, estarei lá. A propósito, lindo nome.Me pego sorrindo ao telefone. O que deu em mim?- Obrigada. Te vejo daqui a pouco então.
