#ANELISE – CAPÍTULO 10
02/07/2018
O restante da semana foi preenchido com almoços, jantares e corridas -muito a contra gosto por Petrus- no parque. Falamos de tudo: família, amigos, histórias engraçadas que inventamos para ter assunto na mesa do jantar.Acompanhei-o em duas aulas de culinária e ele realmente se saiu bem. Acho que já tinha uma boa noção de cozinha, como havia mesmo dito. Nós trocamos informações de livros, filmes e respondemos questionários um ao outro para medir nosso nível de conhecimento. No penúltimo dia chegamos á conclusão que nem casais com mais de 20 anos de relacionamento se conheciam tanto assim. Tenho que confessar: foi a semana mais engraçada em anos. Tiramos algumas fotos: uma no parque, outra em casa, no sofá...Algumas com os cachorros. Deixei algumas no meu celular e coloquei uma de fundo de tela.Nós éramos uma dupla infalível!Em alguns dias, pensamos em histórias mirabolantes e formas de convencer minha família que estávamos apaixonados. Só Rúbia sabia em partes da verdade, mas ela se manteria em silêncio, eu conhecia minha irmã.No final do último dia, sentados em meu sofá, Petrus se vira para mim com uma expressão divertida.- É a primeira família que eu vou conhecer sabia? - ele fala enquanto bagunça o pêlo de Apolo. Diana sente ciúme e se deita em seus pés. Meus cachorros já estavam acostumados com ele.-Fala sério Petrus! Trinta e três anos e nunca foi conhecer a família de nenhuma namorada?- Eu nunca tive nenhuma namorada, talvez seja por isso.- Nenhuma? -eu pergunto incrédula.-Não, nenhuma. Um rolo mais longo aqui e outro ali, mas nunca nada sério.Eu comecei a fazer o que eu faço cedo, Ane. Ninguém quer namorar um garoto de programa, concorda? E eu também nunca procurei ninguém. Não acho justo ter alguém e não poder me doar por inteiro. Eu nunca aceitaria essa situação e não espero que alguém aceite, então fica assim.-Entendi. Faz sentido mesmo. - eu reviro os olhos rindo mas decido seguir adiante - Isso não é um elogio, tá entendendo? O que eu vou dizer agora não é um elogio.Ele ri.-Estou ansioso para ouvir seu "não-elogio".-Mas você é bom. Sabe? Do bem mesmo... bom caráter, bom coração. Fico feliz por ter te conhecido, Petrus.Os olhos azuis dele brilharam de satisfação e orgulho.- Você é a primeira pessoa que me elogia sem querer elogiar. Mas obrigada Ane. Você não sabe o que isso significa pra mim.Ignorando todos os meus instintos, eu segurei de leve a sua mão e apertei. Ele retribuiu o toque e sorrimos.Acho que ganhei um amigo.- Acho que agora preciso ir. Tenho minhas malas para arrumar ainda e amanhã saímos cedo não é?- Sim, cedinho. -eu hesito um pouco antes de perguntar - Você não tem nenhuma cliente hoje?- Não. Estou desmarcando elas desde ontem, pra ter mais tempo para me preparar.- Não queria te dar tanto prejuízo, Petrus. Eu realmente me sinto mal com isso.- De novo esse assunto? Não está, eu já disse... Eu tenho dinheiro guardado suficiente para ficar um ano sem trabalhar, então relaxa - ele muda de assunto rápido - Vamos no meu carro?- Sim, pode ser. Ele é mais espaçoso para as malas e os cachorros.-Tá certo então - ele para diante de mim, relutante por um segundo e em seguida me abraça - Droga, eu adoro seu perfume sabia?Eu dou risada e levo na brincadeira. Já não há mais constrangimento entre nós.- Sabia, agora vai logo.Ele caminha até a porta e para um segundo, olhando para trás.-Até amanhã esposinha.
